Augusto Amorim
A relação médico-paciente envolve a saúde, o corpo e a vida. É relação intimista, que inspira cuidados, fazendo com que o médico, muitas vezes, deixe o caráter profissional e passe a exercer apenas o papel de ouvinte, um conselheiro de seu paciente.
O respeitado consultor em Neurologia e tutor clínico de pós-graduação da Universidade de Birmingham Michael Balint, em seu livro “ O médico, seu paciente e a doença”, diz que frequentemente a consulta ao médico trata-se somente de uma válvula de escape ao paciente.
É fundamental, portanto, que haja essa cumplicidade, essa proximidade entre o médico e o paciente, para que assim seja preservada uma boa relação entre eles.
Ocorre, porém, que o mundo vem se modernizando. A cada minuto surgem novas tecnologias, novos equipamentos, cada vez mais precisos, mais rápidos e mais funcionais.
Nessa constante busca por modernização, agilidade e precisão, os avanços tecnológicos acabam por atropelar os avanços sociais. Tal cenário, por sua vez, não é diferente na medicina, que vem se prendendo somente aos aspectos tecnológicos e se esquecendo dos papéis sociais dessa relação.
A automatização da medicina vem demonstrando um cenário preocupante de distanciamento na relação médico-paciente. A relação, que era íntima e confessional, passa a ser uma relação altamente tecnológica, estritamente profissional e distante.
É fato que ninguém em sã consciência é contrário aos avanços tecnológicos. Ocorre que a sociedade hoje requer que o profissional de saúde, além de se valer da tecnologia, preserve a intimidade e a proximidade da relação entre ele e o paciente, voltando a ser o ouvinte e o confidente.
A boa relação entre médico e paciente é pilar fundamental no que se refere ao Direito Médico. Assim, o distanciamento aqui narrado desta relação vem influenciando diretamente no aumento do número de processos na área médica.
*Augusto Amorim é advogado da equipe Rogério Leal Advogados e Associados