Atletas profissionais de futebol x redução salarial x participação sindical

*Arlete Mesquita 

É certo que digam por aí que atletas profissionais de futebol não queiram reduzir salários nos modelos propostos.  Como também é certo que ainda que abram mão de parcela considerável, tal postura não irá de encontro às vontades/necessidades dos clubes.

Ultrapassada uma quinzena de paralisações, poucos Acordos Coletivos de Trabalho foram entabulados via negociação sindical.

A realidade do futebol para os que a vivenciam, permite, por um feixe de luz, enxergar, lamentavelmente, a ausência de boa vontade travestida de interesses outros que não o de juntos, atletas e clubes, construírem um novo patamar para este momento tão conturbado.

Lado outro, é incontestável que ainda que exista toda uma estrutura para que os espetáculos aconteçam, sem sombra de dúvidas a estrela é o atleta profissional de futebol. Porém, a posição destaque não é garantia de altos salários ou mesmo de manutenção de contratos, e partir de exceções como Daniel Alves, Fred e Dudu, para análise do todo, é incorrer em um grave equívoco.

Conforme estudo apresentado no curso FGV/Fifa, coordenado por Pedro Trengrouse e divulgado na coluna do jornalista Ancelmo Gois, do O Globo[1], 45% dos atletas ganham até um salário mínimo, 42% entre um e dois salários, 9% entre dois e vinte, e 4% recebem acima de 20. Trocando em miúdos, 87% dos atletas profissionais de futebol ganham entre um e dois salários mínimos.

O desemprego, outra triste realidade que permeia a sociedade brasileira, também produz seus efeitos no mundo do futebol. Segundo estudo da EY encomendado pela CBF[2], 90% dos atletas profissionais registrados não tem um clube.

Nessa esteira, das poucas negociações coletivas que se tem notícia, e das que estão em andamento, percebe-se nítida vontade e sensibilidade dos atletas em buscar um bom termo ao que está a ocorrer, porém, não se mostra razoável que as indefinições perdurem até o cumprimentos das férias coletivas e/ou sejam tratadas individualmente, a depender do poder de defesa e/ou resistência individual de cada um deles.

Concessões estão sendo feitas, como as vantagens obtidas pelos clubes junto a CBF, como suspensão de taxas de registros etc., tudo com o objetivo de que todos saiam menos prejudicados desse período tão atípico.

Assim, mister que a realidade seja levada em consideração para o devido tratamento aos Atletas Profissionais de Futebol, não lhes aplicando as medidas provisórias que permitem a redução de jornada ou suspensão de contrato, buscando aos que possuem similitudes de condições, observada a representação sindical, o mesmo tratamento para minimizar os efeitos desta pandemia sem precedentes.

O momento é de concessões, porém, devem ser mútuas, este é o momento de união, é agora, o futuro, outrora incerto, mostra que o hoje é feito por todos nós, e muito em breve o futebol brasileiro voltará e fará com que todos vibrem juntos outra vez.

*Arlete Mesquita  é advogada trabalhista e sindical

[1] https://blogs.oglobo.globo.com/ancelmo/post/metade-dos-jogadores-de-futebol-do-brasil-ganham-so-um-salario-minimo.html

[2] https://rodrigomattos.blogosfera.uol.com.br/2019/12/28/estaduais-nao-impedem-desemprego-em-massa-de-jogadores-no-brasil/