Desemprego é maior entre profissionais qualificados

Diante da escassez de mão de obra qualificada, o trabalhador brasileiro entendeu o recado de que o caminho direto para o emprego estável é a qualificação e correu atrás. Contrastando com essa afirmativa, um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ao longo dos anos 2000, especialmente a partir da segunda metade da década, diz que o número de trabalhadores com mais qualificação fora do mercado de trabalho é maior que aqueles com menos qualificação. A média salarial desacelerou.

Enquanto os salários dos trabalhadores com 11 anos ou mais de estudo apresentaram desaceleração de 4,84% nas duas últimas décadas, terminadas em 2012, os rendimentos daqueles que não tinham nenhum estudo, ou que estudaram até três anos, ficaram 71,62% maior.

Na primeira faixa, a média de ganho mensal partiu de R$ 2,083 em 1992 para R$ 1,983 duas décadas depois. Na faixa dos trabalhadores com menos estudo, os ganhos saíram de uma média de R$ 401 passando para R$ 689 em 2012.
Em duas outras faixas, de quatro a sete anos e de oito a dez anos de estudo, também observa-se melhora superior àqueles com menos estudos, de 33,87% e 1,69%, respectivamente.

Os dados contrariam tudo o que se tem ouvido por instituições de pesquisa, ensino e pela mídia e mostram que, embora ainda ganhem mais, os trabalhadores com qualificação veem sua renda mitigada ao longo de duas décadas.
O cenário pode ser apenas uma máscara do mercado, de acordo com o diretor de tecnologia e educação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Manoel Pereira. “Temos uma aparência momentânea. Esse mercado da pesquisa está mascarado. É como uma cortina que mostrará a realidade quando for aberta”, diz.

Ele explica que a qualificação profissional se divide em três níveis: a capacitação, que é conquistada com cursos de curta duração; o aperfeiçoamento, que segue uma linha específica, mas que também é adquirida com cursos de curta duração; e a qualificação, que se divide em habilitação (cursos de 1.600 horas) e a graduação (três mil horas).

Os trabalhadores que têm menos qualificação vão para o nível operacional, que tem mais oportunidades de emprego. “Os de alta qualificação estão no topo da pirâmide. Nesse caso, o mercado não precisa de números, mas de qualidade. Os trabalhadores com baixa qualificação estão entrando no mercado, sim, mas saem logo em seguida porque há uma exigência cada vez maior de estudo”, explica.

O estudo do Ipea mostra que, em 2012, mais de 50% dos desempregados tinha 11 anos de escolaridade ou mais. A análise aponta que a parcela de trabalhadores mais qualificados entre os desempregados cresce ano a ano, atingindo a metade do total de desempregados em 2009 e crescendo mais ainda de lá para cá. “O contingente daqueles dispostos a trabalhar, mas que por algum motivo não conseguiram um posto de trabalho está concentrado em trabalhadores de maior qualificação e não o contrário”, diz o documento.

O diretor do Senai avisa que haverá uma virada ainda mais intensa no mercado, proporcionada pela mecanização da produção. “As máquinas, as tecnologias, as formas de pesquisa caminham de forma alucinante e quem não tem qualificação vai perder o emprego para quem é qualificado. Nós não vamos mais precisar de mão de obra qualificada, mas de cabeça-de-obra qualificada”.