Caso Felipe Feitoza: família pede Justiça e apoio da sociedade durante julgamento dos réus nesta terça-feira

Os acusados da tentativa de homicídio contra o adolescente Felipe Feitoza serão julgado nesta terça-feira (15) pelo caso por um júri popular. O julgamento está previsto para ter início às 8 horas, no 2º Tribunal do Júri de Goiânia. A família, muito unida, pede justiça.

O caso de Felipe Feitoza ganhou muito destaque. Ele tinha apenas 16 anos quando viu sua vida mudar completamente. Tudo o que o jovem mais gostava teve de ser deixado de lado. As aulas de dança, capoeira, o jiu-jítsu e o violão.  A bicicleta, outra de suas paixões, e o início das aulas no curso de Ciências da Computação, na Universidade Federal de Goiás (UFG). Sonhos interrompidos na noite do dia 12 de julho de 2009, quando Felipe Feitoza foi baleado na cabeça. Ele havia acabado de sair de um shopping de Goiânia e se dirigia a um ponto de ônibus na companhia de um primo. A bala atingiu o lado direito do cérebro, deixando sequelas que ele terá de carregar a vida toda.

Mas o que aquele tiro, disparado pelo auxiliar de contabilidade Fabrício Freitas Pacheco, sem qualquer motivo, não arrancou de Felipe foi a vontade de viver. O sorriso no rosto parece ser uma marca do jovem. Não fossem as cicatrizes deixadas pelas cirurgias, não seria possível perceber o sofrimento passado. Nem mesmo ter ciência do que foi superado e de que sua vida esteve perto de acabar, dada a gravidade do ferimento. “Foi um milagre. O médico chegou a dizer que entregaram a ele um menino morto”, conta a mãe Telma Feitoza.

Com uma força difícil até de se entender, Felipe contrariou os diagnósticos e, a cada dia, supera novos desafios. Mesmo com a hemiplegia (que paralisou o lado esquerdo), ele voltou a fazer parte das atividades que lhe deixam feliz. Com adaptações, anda de bicicleta. Além disso, faz luta e terapia ocupacional com o violão, no Centro de Reabilitação e Readaptação Doutor Henrique Santillo (Crer). Tirou carteira de motorista e namora há sete meses. Falta apenas a capoeira e um outro importante detalhe: a punição para os autores do crime.

Mas essa história pode mudar neste dia 15 de outubro, os dois jovens acusados pelo crime serão levados a júri popular. A sessão será terá início às 8 horas, no fórum do Setor Oeste, em Goiânia. Além de Fabrício, vai a julgamento Júlio César Gonçalves de Araújo, dono da arma e responsável por dirigir o carro de onde o autor disparou contra a vítima. Esse será o segundo julgamento dos acusados. O primeiro, marcado para o dia 21 de março passado, teve de ser adiado por conta da ausência do primo de Felipe, Pedro Henrique Borges Schimmidt, 18.

Para ter mais apoio, a família de Felipe iniciou uma campanha nas redes sociais. Em menos de um mês, já são mais de 98 mil compartilhamentos no Facebook. A foto do jovem, que mostra seu rosto antes e o depois do ocorrido, vem acompanhada de uma mensagem emocionada do pai Nelson Fernandes Feitoza. O pedido é para que a população participe do julgamento.

Os acusados serão julgados por tentativa de homicídio com duas qualificadoras: motivo fútil e impossibilidade de defesa da vítima. Os dois chegaram a ser presos e foram soltos dois meses após o ocorrido, segundo conta o pai de Felipe. Seis meses depois, foram detidos novamente e ficaram um ano e meio. A família também move uma ação de indenização, com pedido de R$ 800 mil.

Além dos compartilhamentos, Nelson conta que recebe ligações e mensagens diárias em seu celular, vindas de todo o Brasil e também do exterior. São declarações de apoio e solidariedade.  As palavras, escritas ou faladas, dão a família esperança de que a Justiça seja feita, para que os dias de todos eles sejam mais tranquilos.  “É difícil dizer o que sentimos em saber que eles (os autores) estão soltos. Não era para estarmos lutando para a que a Justiça seja feita. Era para ela simplesmente acontecer. Mas não perdemos a esperança e queremos a pena máxima”, desabafa a mãe do jovem.

Crime – Segundo consta nos autos, naquele dia, enquanto caminhavam pela rua, nas proximidades do Ginásio de Esportes do Setor Bueno, Felipe e o primo foram abordados por um grupo de jovens que estavam em um Golf prata. Um dos rapazes que estava no carro perguntou se eles moravam no Jardim América. Antes de obter qualquer resposta, Fabrício, que ocupava o banco de trás do veículo, atirou contra Felipe. Em depoimento, os acusados dizem que atiraram por engano.

Júlio César, que dirigia o veículo, teria acelerado o carro, levando o grupo para longe do local. Além dos acusados, estavam no veículo outros cinco amigos da dupla. Todos vinham de uma casa de festa localizada no Setor Bueno, onde Júlio César já havia se envolvido em uma briga. Conforme o MP, foi por sugestão dele que o grupo saiu pelas ruas do setor em busca de uma gangue com a qual os rapazes já teriam uma rixa antiga.

Sequelas – Felipe ficou 23 dias internado, dos quais cinco foram em coma induzido.  Por conta do tiro, ele teve de fazer uma cranioplastia com utilização de prótese de acrílico. Hoje, ele usa uma órtese na perna esquerda para ter mais equilíbrio. A mão, desse mesmo lado, não tem mais força. Além disso, toma anticonvulsivos.  “Por conta disso, não temos mais tranqüilidade. Vivemos com o coração na mão”, diz a mãe do rapaz.

Felipe, segundo conta Telma, também teve mudanças no emocional e ficou com “certa frieza”. Antes, era muito carinhoso, sentimento que foi voltando aos poucos, mas não da mesma maneira. “O primeiro dia que ele me deu um abraço espontâneo foi uma emoção muito forte para mim”, diz. Apesar de aprender rápido, ele tem dificuldades de interpretação e, por isso, não permanece nos cursos universitários que inicia. A memória também foi afetada.

Superação – Por incrível que pareça, o sofrimento de toda a família, pais e irmã (Taíssa Feitoza), foi amenizado pelo próprio Felipe, segundo conta a mãe. “Uma das coisas que nos ajudou muito foi essa alegria dele. A força de vontade. É um exemplo para outras pessoas”, conta, emocionada, Telma. Questionado se sente revolta por conta do acontecido, Felipe diz que não, “apenas raiva”. “Não sei explicar, mas só estando na minha pele para saber o que sinto por eles (os autores)”, diz o jovem.