Advogado agredido durante abordagem por PMs já está em casa; caso mobilizou colegas e instituições classistas

Caso Orcélio
Imagens de Orcélio Júnior foram gravadas por populares e ganharam as redes sociais
Publicidade

Marília Costa e Silva

O advogado Orcélio Ferreira Silvério Junior, de 32 anos, foi liberado na noite de ontem após ter sido agredido, algemado e levado à Central de Flagrantes de Goiânia por policiais do Grupamento de Intervenção Rápida Ostensiva (Giro) após tentar intervir na prisão de um flanelinha, nas imediações no Camelódromo da Praça da Bíblia. O fato, que ganhou as redes sociais, causou indignação e mobilizou a advocacia e representantes de várias instituições, como a Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás (OAB-GO), Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas de Goiás (Abracrim-GO) e Associação Goiana dos Advogados Criminalistas (AGCrim).

Ao conversar com Rota Jurídica na manhã desta quinta-feira (22), Orcélio Júnior afirmou que ainda sente intensas dores na face devido as agressões sofridas ontem. “Mas estou bem e vou me recuperar, pois existe muita ilegalidade nesse país que precisa ser enfrentada”, afirmou. Vídeos mostram quando o advogado leva uma série de socos de um policial militar Giro enquanto era segurado por outros agentes e já estava algemado.

Orcélio Júnior também denunciou que voltou a ser agredido dentro do pátio da delegacia, já entregue, e dentro da triagem também. Ele pediu socorro e uma policial civil que não quis se identificar. Ele afirmou que ela foi negligente e omissa no momento que estava sendo torturado.

Orcélio Júnior denunciou que voltou a ser agredido mesmo após chegar na Delegacia

Ocorrência

A confusão começou quando a PM abordava um flanelinha no estacionamento do camelódromo, em frente ao terminal Praça da Bíblia. Segundo o boletim de ocorrência, o cuidador de carros estaria ameaçando clientes a pagar pelo estacionamento. Os PMs disseram que precisaram conter o advogado, que tentativa intervir, porque ele desobedeceu a corporação, desferiu chutes e mordeu o dedo de um policial.

Apesar dessas alegações, no entanto, contra o advogado nada foi registrado nessa quarta-feira na Polícia Civil. Ao contrário, após mobilização dos colegas, ele foi liberado sem nenhum tipo de autuação na noite de ontem, após passar por exame de corpo de delito. “Ele não praticou crime. Ao contrário foi vítima de um crime”, afirmou os colegas que se mobilizaram em se favor ontem.

Em nota, a Polícia Militar afirmou que, ao tomar conhecimento das imagens publicadas nas redes sociais, instaurou um Procedimento Administrativo Disciplinar para apurar os fatos e ainda determinou o afastamento, das atividades operacionais, do policial militar envolvido na abordagem.

Apoios

O presidente da OAB-GO, Lucio Flávio de Paiva, esteve pessoalmente na Central de Flagrantes ontem para prestar assistência e garantir à vítima a observância de seus direitos de advogado e cidadão durante Exame de Corpo de Delito. Na ocasião, Lúcio Flávio revelou que a Seccional já oficiou à Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás e ao Comando da PM-GO. “Tudo que estiver ao alcance da OAB-G será feito para que haja a punição exemplar e para que situações como essa não se repitam nem com a advocacia e nem com a cidadania”, destacou.

O presidente da AGcrim, o advogado Paulo Roberto Borges, também acompanhou pessoalmente o caso. Ele afirmou além de apoiar o colega na polícia, esteve pessoalmente na Corregedoria da Polícia Militar onde apesar dos protestos da advocacia não foi feita prisão em flagrante dos PMS que agrediram o advogado. Apesar disso, ele comemora a união da advocacia, que se mobilizou em favor do colega. “Temos de estar unidos, para garantir que a categoria seja mesmo respeitada”, disse.

O presidente da Abracrim-GO, Alex Neder, divulgou nota de apoio ao advogado e afirmou que uma representante da entidade esteve presente desde o momento em que Orcélio Júnior foi levado à Central de Flagrantes. “Inconcebível o ocorrido, visto que, a polícia que é preparada para dar segurança as pessoas, tratar um cidadão com tamanha truculência, de forma desnecessária e repulsiva, sendo que o colega advogado estava imobilizado quando foi brutal e impiedosamente agredido”, frisou.