Parte e testemunha participam de audiência virtual do quintal da fazenda onde estavam

Juiz estava em casa e parte e testemunha em uma fazenda
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Devido à crise sanitária mundial causada pelo coronavírus, o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO) passou a designar audiências por meio virtual. A pandemia, contudo, expõe um problema sério. Da mesma forma que aproxima, a tecnologia exclui quem não dispõem de acesso à internet, e, para estes, uma simples chamada de vídeo é uma novidade incrível, mesmo agora com mais de um ano de pandemia. E foi em uma dessas audiências virtuais, dentre as mais de 800 designadas para o Programa Acelerar – Mutirão Previdenciário, que chamou atenção por um fato inusitado. A parte atendida pelo juiz em substituição na comarca de Porangatu, José Augusto de Melo Silva, morava na zona rural do município e participou da audiência em meio a vacas, porcos e galinhas. Ela nunca havia feito uma chamada de vídeo.

De um lado do computador estava o magistrado em sua residência. Do outro, também em sua casa – uma fazenda localizada a 175 quilômetros de Porangatu – sede da comarca, Gerssiane Chaveiro de Souza. A audiência, que terminou com a condenação do INSS ao pagamento do auxílio-maternidade a Gerssiane, foi feita em meio ao som de galos e porcos. Ao fundo do vídeo, via-se o quintal da casa, com cercas e uma grande árvore, fatos que deram ao magistrado a certeza de que a parte e uma testemunha estavam realmente na zona rural.

Essa é a primeira vez que a mulher, de 24 anos, faz uma chamada por vídeo e que participa de uma audiência também. “Apareceu um negócio aqui na minha tela. Essa reunião está sendo gravada e aperta, entendi?”, perguntou Gerssiane ao juiz, assim que iniciou a audiência. “Eu estava muito nervosa nunca tinha falado em frente à câmera, celular e internet. Imaginei que povo era muito chique”, completou, ao ser entrevistada logo após a audiência.

O acesso à internet só chegou há um mês ao local. Antes disso, para se comunicar era preciso andar muito para conseguir um sinal de telefone. “Graças a Deus foi colocada internet aqui. O patrão colocou e a gente comprou um celular com câmera. Parece que estamos mais próximos. Quero agradecer vocês que me ajudaram muito. O juiz foi muito educado comigo. Eu nunca tinha mexido nisso”, afirmou Gerssiane.

Novidade também para o magistrado que, quando abriu o link da audiência, viu a parte como se estivesse em um curral. “Estava no seu lugar de trabalho, cuidando dos animais. E olhei para ela olhando a tela do celular, enquanto eu me apresentava, e parecia meio que não estava acreditando… depois, confirmou sobre a gravação da audiência. Enfim, foi uma sensação muito boa”, destacou.

Segundo ele, isso demonstra o judiciário efetivamente perto do cidadão. “Como tenho origem rural, ao ouvir o barulho dos animais, não pude também deixar de me emocionar, com saudade da época em que podia ter isso perto”, lembrou José Augusto. Com informações do TJGO