Júri do caso Martha Cozac é suspenso de madrugada e deve ser retomado hoje às 9 horas

Será retomado às 9 horas desta quarta-feira (8) o julgamento dos dois acusados pela morte da empresária Martha Cozac e do sobrinho dela Henrique Talone. A sessão do 1º Tribunal do Júri de Goiânia foi suspensa por volta das 3 horas da manhã, após terem sido ouvidos os dois réus. O advogado de defesa, Paulo Teles, afirmou ao Rota Jurídica que os interrogatórios foram extremamente positivos pois teriam demonstrado que eles não tem nenhuma participação no caso. Segundo ele, no dia dos homicídios, Alessandri estava fora de Goiânia e Frederico estava em sua casa.

Frederico foi o primeiro a depor. Ele alegou que viajou no dia do crime e não tem relação com as mortes. “No sábado eu fui para São Luiz, voltei domingo e segunda-feira à noite foi quando eu tive a notícia, que ela tinha falecido”, disse.

Em seguida foi a vez de Alessandri ser ouvido. Ele destacou que não tinha motivo para cometer o crime. Como Frederico, ele também disse que não estava na capital quando Martha e Henrique foram mortos. “Eu não estava aqui. Se estivesse aqui, minha tia, que era dona do imóvel, me ligaria, eu seria a primeira pessoa que ela ia ligar se eu estivesse aqui”, declarou.

Defesa dos réus

O julgamento chamou a atenção durante todo o dia de ontem. Ao contrário do que ocorre na maioria dos julgamentos de acusados de homicídio, quando apenas os familiares pedem Justiça, a grande mobilização ontem se dividiu entre defesa e acusação. Prova disso foi a presença de dezenas de pessoas que acompanham o julgamento vestindo camisetas com os dizeres: “são inocentes”.

Um dos principais depoimentos colhidos ontem foi de Valéria Talone, mãe de Henrique Talone Pinheiro, assassinado junto com Martha Cozac. Ela acredita que os réus são mesmo autores do duplo homicídio. Ao ser ouvida, ela disse que sempre se questionou sobre o autor dos homicídios e que, pelo fato de terem vendado o garoto, que tinha 10 anos, a levou a crer que o criminoso é conhecido da família. Frederico, um dos acusados, é primo do menino. Valéria disse, ainda, que devido ao comportamento do réu, ela desconfiou que ele estivesse envolvido.

Após a mãe, foi a vez do pai de Henrique, Alonso de Souza Pinheiro ser ouvido. Na condição de informante, ou seja, ele não prestou compromisso de dizer a verdade, devido ao parentesco com a vítima, ele discorreu sobre a notícia do falecimento do filho. Segundo ele, Elcione Maria da Rocha Talone, mãe de Frederico, ligou e disse que o filho dele havia morrido. “Ela me disse assim: Seu filho morreu, seu burro”.

Segundo ele, ao ficar sabendo do crime, ele foi ao até a sede da confecção de Martha Cozac e constatou que o local estava totalmente abandonado e garantiu que Elcione havia lavado o local do crime e não deixou ninguém entrar no quarto. “A porta do quarto onde eles estavam teve de ser arrombada porque estava trancada. No local do fato você não via nenhum vestígio. A Martha foi executada em cima da cama e os edredons foram lavados por Elcione”, relatou.

Participam do julgamento cinco jurados homens e duas mulheres. A defesa do réu é feita pelos advogados Paulo Teles, Ricardo Naves e Thales Jaime. A acusação é composta pelos promotores Paulo Ferreira dos Santos, Giuliano da Silva Lima e Paulo Eduardo Prado.

O crime
O crime ocorreu em 7 de outubro de 1996 e, desde que os réus foram pronunciados, em março de 2010, esta é a quinta vez que é designada data para realização do julgamento – em outras oportunidades, recursos da defesa impediram a instalação da sessão do júri.

O último adiamento, em 15 de março passado, foi determinado pelo desembargador do Tribunal de Justiça de Goiás Luiz Cláudio Veiga Braga, que atendeu pedido da defesa que alegou que o juiz responsável pela condução do processo, Jesseir Coelho de Alcântara, não analisou solicitação para que fosse feito exame de DNA em sangue encontrado em cartão bancário da empresária. Conforme o advogado Paulo Teles, a analise comprovaria que o sangue, que já se sabe não ser das vítimas, também não é de nenhum dos acusados, o que poderia comprovar a inocência deles.

Os assassinatos de Martha Cozac e Henrique Talone ocorreram na madrugada daquele dia, dentro de uma casa na Rua 132, no Setor Sul. De acordo com a denúncia do Ministério Público de Goiás (MP-GO), Frederico Talone havia sido contratado por Marta Cozac para trabalhar na confecção de sua propriedade. Era uma forma de retribuir o aluguel do imóvel – propriedade de Frederico Talone – que utilizava para morar e como sede de sua empresa.

Justiça
Nadia Cozac, irmã de Martha Cozac, disse ontem que está tranquila, pois tem recebido apoio por onde passa. Ela declara estar confiante que será feita Justiça e que acredita na condenação dos acusados. Segundo ela, a possível condenação irá fechar um ciclo de sofrimento da família.

O crime
No dia do crime, Martha Cozac e Frederico Talone haviam acabado de chegar de uma viagem a Cristalina. A empresária, então, ligou para Frederico Talone e pediu que no dia seguinte ele levasse cheques de terceiros que havia recebido pela confecção e estavam na posse do rapaz. Contou também que o veículo de sua propriedade, um Fiat Uno, apresentou defeito na ignição depois de uma tentativa de furto.

De acordo com a denúncia do MP-GO, Frederico Talone e Alessandri da Rocha foram até a casa da empresária no mesmo dia. Chegaram ao local por volta das 23 horas, quando a empresária já se preparava para dormir. Martha Cozac abriu o portão do imóvel e acendeu as luzes, mandando os dois entrarem. Segundo o MP-GO, Frederico Talone, que à época era praticante de jiu-jitsu, e Alessandri da Rocha agrediram a mulher, aplicando-lhe golpes em regiões estratégicas. Ela ficou desfalecida e os dois aproveitaram para amarrar seus pés e mãos, a levaram para o quarto e desferiram uma facada no lado esquerdo do peito.

Henrique Talone, que à época tinha 11 anos de idade, estava no quarto e também foi amarrado, teve os olhos vendados e a boca amordaçada. O menino levou dois golpes de faca, que foi deixada cravada em seu corpo. Frederico Talone e Alessandri da Rocha, de acordo com a denúncia do MPGO, se apoderaram de cheques da empresária, dinheiro, cartões bancários e fugiram levando ainda o Fiat Uno avariado.

Ao proferir a decisão de pronúncia, em 23 de março de 2010, o juiz Jesseir Coelho de Alcântara explicou que a materialidade delitiva estava comprovada e, embora os acusados negassem a prática do crime, os indícios de autoria se extraem dos depoimentos prestados pelas testemunhas.

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