Advogado criado na comunidade Kalunga reclama da falta de políticas públicas para a região

Wanessa Rodrigues

A denúncia de casos sobre trabalho doméstico infantil, abuso e exploração sexual de meninas na comunidade Kalunga de Cavalcante, em Goiás, chamou a atenção para os problemas vividos na região, principalmente no que diz respeito à falta de políticas públicas. O Portal Rota Jurídica conversou com um dos moradores da região que venceu desafios, conseguiu estudar e, hoje, atua como advogado em Goiânia. A carreira, Wesley Leandro Alves Moreira , de 23 anos, pode ser uma maneira de ajudar as pessoas que vivem na comunidade, que, segundo diz, não tem o devido apoio dos órgãos públicos e estão à mercê da própria sorte.

advogado kalungaWesley, que atua na área penal e se especializa em Ciências Criminais, observa que falta total atenção aos quilombolas da comunidade Kalunga de Cavalcante. Ele ressalta que o acesso em toda a zona rural do município é muito ruim e muito pior quando se fala da comunidade Kalunga. Estão ausentes inúmeros direitos, como água encanada, luz, escola de qualidade e saúde, que ainda são direitos não garantidos pelo Estado. “Sequer o direito de ir e vir são garantidos, pois o acesso a essas comunidades é penosa, difícil de chegar”, diz.

Para ele, o Estado deve lembrar deve povo, dessa cidade, dessas Comunidades, que estão esquecidas e dar a eles condições dignas de se viver, condições dignas de um ser humano, conforme reza a Carta Cidadã de 1988. Ele acredita que, por meio da carreira que escolheu, possa ajudar a comunidade Kalunga, tendo em vista que a referida comunidade precisa de assessoria em todas as áreas. “É possível ajudar com orientações jurídicas, psicológicas, trabalho de conscientização das famílias, aposentadoria, salário-maternidade”, acredita.

Sobre os fatos em relação aos abusos de crianças e adolescentes da comunidade Kalunga, Wesley diz que tudo deve ser investigado a fundo. Todavia, não apenas esse fato envolvendo o vereador, e sim, todos os outros inquéritos e notícias de crimes. A seu ver, deve ser feito um trabalho de conscientização e as famílias, a população de Cavalcante devem ser orientadas quanto ao fato de a pratica qualquer ato sexual com menor de 14 anos ser crime, mesmo com o consentimento da vítima, pois, as pessoas julgam muito o fator da conduta das vítimas e encaram esses fatos como algo normal.

Ele diz que é importante ressaltar que, apesar de a visibilidade maior no município de Cavalcante ser a comunidade Kalunga, outras Comunidades passam pelo mesmo descaso do poder público e pelos mesmos problemas.

Trajetória
Wesley conta que vem de uma família humilde da zona rural de Cavalcante, onde morou até os meus 14 anos de idade. Começou a trabalhar com sete anos de idade, já foi vigiador de carro, montador de barraca de feiras e até já se aventurou como lutador. Seu primeiro emprego de carteira assinada foi aos 15 anos como menor aprendiz na empresa Mc Donald´s, onde fiquei até os meus 19 anos.

Entrou na Faculdade aos 17 anos de idade, no curso de Direito, pois, sempre sonhou em advogar, principalmente na área Criminal, uma de suas minhas paixões. “Optei por essa carreira, por vivenciar tamanhas injustiças e preconceitos, principalmente com relação aos negros e pobres”, ressalta.

Preconceito
Durante sua trajetória, sofreu preconceito e vivenciou situações constrangedoras, o que o motivou a continuar estudando, trabalhando, e se aprimorando cada vez mais. “Sempre que passo por uma situação preconceituosa, procuro sempre contornar a situação da melhor maneira possível, não me abalando, muito pelo contrário, essa lamentável situação me faz querer ser uma pessoa melhor a cada dia”, observa.

Inclusive, recentemente, ele conta que passou por uma situação lamentável. Wesley estava em uma audiência onde havia cinco brancos e somente ele de negro. O policial, ao ser ouvido como testemunha e sendo indagado pelo promotor se lembrava do acusado presente na audiência, este olhou para Wesley, pensando que ele fosse o acusado, sendo imediatamente advertido pelo Ministério Público.