Sagrada Família é a primeira igreja em Goiás a contar com espaço para mediação

Wanessa Rodrigues

mediar é divino
Espaço Mediar,  está localizado na Paróquia Sagrada Família, no Setor Canaã, em Goiânia

Goiás conta agora com o primeiro espaço de mediação instalado em uma paróquia. Será inaugurado nesta quarta-feira (11/05), às 10h45, o Espaço Mediar, na Paróquia Sagrada Família, em Goiânia. O projeto surgiu após iniciativa inédita no Brasil de capacitação de líderes religiosos dentro do Programa Mediar é Divino, idealizado pelo juiz Paulo César Alves das Neves e lançado durante a última Semana Nacional da Conciliação.

A ideia foi colocada em prática no Estado pela primeira vez no fim do ano passado, por meio de projeto do Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos (Nupemec) do TJGO. Dentro do projeto, líderes religiosos de Goiânia e região participam de curso do programa Mediar É Divino, para aprender técnicas de conciliação e mediação judiciais. A intenção era justamente fazer com que os participantes levem, ao âmbito de seus templos, as técnicas judiciais para resolução de conflitos sociais.

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Paulo César  das Neves coordena o Nupemec

O espaço na Paróquia Sagrada Família, que é vinculado ao 3° Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania de Goiânia, localizado na Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), conta com uma recepção e uma sala onde serão realizadas as audiências de conciliação. Caberá ao TJGO, por meio do 3° Centro Judiciário, a homologação dos acordos celebrados pelos religiosos naquele espaço.

Segundo o coordenador do Nupemec, juiz Paulo César Alves das Neves, a instalação do espaço é o reconhecimento pelo segmento de que a mediação é um importante instrumento de pacificação social. O magistrado lembrou ainda que o TJGO tem oferecido a capacitação para todos os segmentos religiosos, não condicionando vagas no curso à instalação do Espaço Mediar. “O TJGO incentiva a instalação, porém, após o curso, é a entidade que avalia a viabilidade, a profundidade do conteúdo do curso e decide se instala ou não o centro”, afirmou.

O Padre Rodrigo de Castro Ferreira, coordenador de pastoral da Arquidiocese de Goiânia, observa que contribuir para que as pessoas tenham paz por meio da conciliação é também um papel da igreja. “Ajudar as pessoas a saírem de conflitos é um dever. Ser sinal de paz na vida das pessoas é o papel da igreja”, diz.

Padre Rodrigo explica que, após o curso realizado pelo TJGO, já foram realizadas mediações na igreja e, agora, o aprendizado passará a ser aplicado no Espaço Mediar. Segundo ele, o maior número de conflitos que chegam à igreja é referente à área familiar, mas o espaço está aberto para a solução de qualquer tipo de mediação. Por enquanto, a paróquia irá trabalhar com um mediador.

Destaque internacional
No início do mês de abril passado, depois de matéria no Jornal Nacional, o Programa Mediar é Divino, teve destaque internacional, com a publicação de matéria no site americano Religions News. Assinado pela jornalista Janet Tappin Coelho, o material ressalta o ineditismo da iniciativa e o fato de o Brasil ser um dos países mais religiosos do mundo, com uma estimativa de 123 milhões de católicos e uma crescente comunidade protestante, de 42 milhões de pessoas.

Ajuizamento de ações
Com a instalação de espaços de mediação nas igrejas, fiéis que costumam procurar líderes religiosos para resolver questões relacionadas a casamento, guarda de filhos e brigas entre vizinhos podem evitar o ajuizamento de ações. Para o instrutor do curso ministrados aos líderes religiosos, o tabelião e oficial de justiça Luiz Antônio Ferreira Pacheco da Costa, a igreja, em seu sentido amplo, tem “histórico de pacificação social, com a resolução de problemas com o diálogo”.

Portas abertas
Rosirene Curado é advogada e assessora jurídica da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Goiás. No tempo livre, trabalha na pastoral litúrgica da Paróquia Jesus Maria José, no Parque Anhanguera, local que, segundo ela, costuma receber fiéis em busca de solução para problemas rotineiros.

“A igreja é um local onde as pessoas se sentem a vontade para abrir o coração e, muitas vezes, é o primeiro lugar que elas procuram. É preciso incentivar a cultura da conciliação e da mediação, em vez do conflito judicial. Sempre pensei nisso, na contramão do que via na faculdade de Direito”.

Esta também é a opinião do pastor evangélico Miguel Bernardino de Viveiros (foto à esquerda), atualmente frequentador da Igreja Batista de Senador Canedo. “A igreja tem sempre as portas abertas para receber seus fiéis. A mediação vai melhorar esse processo de escuta e auxílio, com as técnicas repassadas durante curso”.

matrizes africanas
Participantes da reunião realizada na Câmara Distrital, em Brasília

Segundo o instrutor Luiz Antônio, o primordial é “acolher pessoas e empoderá-las para resolver seus problemas, com uma solução criada em conjunto. O conflito judicial deve ser a última alternativa buscada, para, assim, o Poder Judiciário ser menos sobrecarregado e poder dar mais celeridade às causas complexas”.

Religiões de matrizes africanas
O Mediar é Divino vai expandir fronteiras além de Goiás. O plano é, em breve, formar polos de solução de conflitos em comunidades espirituais diversas, como as de matizes africanas no entorno do Distrito Federal. Para discutir a expansão, foi realizada uma reunião na terça-feira (10), na Câmara Distrital, em Brasília, com integrantes do pelo Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos (Nupemec) do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO).

A comitiva, encabeçada pelo coordenador, juiz Paulo César Alves das Neves, e pelo juiz auxiliar da Presidência, Romério do Carmo Cordeiro, foi recebida pela consultora legislativa em Direitos Humanos, Patrícia Zapponi, que representa a Central Organizada de Matrizes Africanas (Afrocon), uma instituição que congrega mais de 400 unidades religiosas no DF, além de ser Conselheira das Mulheres pelo Mundo pela Unesco e coordenadora do Centro Cultural Africano.

“Nossa intenção é incentivar a conciliação e mediação como formas alternativas ao processo tradicional, a fim de criar pacificação da sociedade, de uma forma mais rápida, mais barata e mais participativa, uma vez que as partes constroem, juntas, soluções para os litígios. Com o Mediar é Divino, a Justiça chega a pessoas que não têm acesso a advogados e não sabem como procurar seus direitos”, disse o juiz Paulo César.

Para Patrícia Zapponi, que representa a Central Organizada de Matrizes Africanas (Afrocon), a criação de um polo de conciliação e mediação dentro de comunidades não cristãs tem uma função social importante. “Pessoas de fora do círculo religioso podem entrar nestas unidades religiosas para procurar atendimento. A autoestima dos frequentadores também será impactada positivamente: eles sofrem muita discriminação e vão poder enxergar sua importância e seu papel social. É uma forma de integração social”.  (Fonte: TJGO)