Juízes trabalham neste fim de semana para apurar número de presos provisórios no Estado

Juízes criminais de Goiás estão fazendo, neste fim de semana, levantamento de todos os presos provisórios existentes no Estado. Além disso, será apurado o tipo de crime cometido e o tempo de prisão de cada um. A iniciativa é o início de uma mobilização determinada na quinta-feira (12) pela presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, que determinou a celeridade no julgamento das ações criminais em tramitação em todos os Estados. A intenção é que os processos sejam julgados em até 90 dias.

A intenção com a medida é reduzir o número de presos provisórios. Dados da Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária de Goiás apontam que nas unidades prisionais do Estado são 8,4 mil detentos provisórios e 6,6 mil que cumprem pena. O Tribunal de Justiça de Goiás pretendem fazer o levantamento em todas as varas criminais para comparar os números

Reunião

O presidente do TJGO, desembargador Leobino Valente Chaves, também marcou para segunda-feira, às 15 horas, uma reunião com representantes de todos os órgãos ligados à Segurança Pública no Estado de Goiás para discutir a crise nos presídios brasileiros. A providência foi tomada também após encontro com a ministra Cármen Lúcia.

Segundo o juiz auxiliar da Presidência, Romério do Carmo Cordeiro, o trabalho será desenvolvido em três frentes. A primeira delas é o que a ministra Carmén Lúcia chamou de “choque de jurisdição penal”, ou seja, um esforço concentrado para o julgamento de todos os casos em que exista prisão provisória num prazo máximo de 90 dias. “A tendência, no entanto, é a confirmação dessas prisões provisórias em definitivas”, ressaltou Romério, que apesar de tudo acredita que é válida a resposta rápida por parte do Poder Judiciário.

Além disso, ela quer que seja feito um censo físico para saber a real situação carcerária do País, uma vez que os números disponíveis não são confiáveis. “A ministra precisa saber quantos presos existem, quais são provisórios e definitivos, que crimes cometeram, em que condições estas pessoas estão vivendo, enfim, saber como é, de fato, a população carcerária no Brasil”, explicou o magistrado. A ministra deu prazo até terça-feira (17) para que todos os tribunais informem, com precisão, o número de processos penais não julgados em cada comarca. Por isso, o esforço concentrado neste fim de semana para o levantamento dos números no Estado.

Outro ponto ressaltado pela ministra Carmén Lúcia e que será discutido na reunião é quanto aos sistemas de cumprimento de pena no Brasil. Embora legalmente existam três meios – fechado, semiaberto e aberto, apenas fechado e a prisão domiciliar realmente funcionam na prática. Os Estados, em regra, não possuem estrutura para o cumprimento do sistema semiaberto, uma vez que não existem colônias agrícolas ou industriais para o cumprimento do aberto. Com isso, restam apenas o sistema fechado e domiciliar, ou seja, a liberdade com uso de tornozeleiras eletrônicas.

“Investir em presídio, embora necessário, além de demorado, é muito caro. Temos de trabalhar junto ao Poder Executivo para que se façam maiores investimentos na construção de novas casas do albergado e em colônias. Se você tem isso, você tira de circulação muitas pessoas que tem problemas com crime das 21 horas até as 5 da manhã, além dos finais de semana”, afirmou.

Segundo ele, promotores e juízes, sabendo desta situação, naqueles casos mais sérios, tendem a pedir e a aplicar condenações mais graves porque sabem que não tem como cumprir semiaberto por falta de estabelecimento adequado. “Por exemplo, se você tem um homicídio simples em que o réu é primário, sem antecedentes, ele, muito provavelmente, vai pegar uma pena menor de oito anos, ou seja, vai para o semiaberto. Como não tem estabelecimento, ele volta para casa com tornozeleira. Como você explica para a família da vítima que esta pessoa está solta?”, questionou ele para ilustrar a necessidade desse investimento. “Apesar de termos um número elevado de presos, a sensação de impunidade ainda é muito grande”, arrematou.