Mãos lavadas

Quem diria que, mesmo após tantos anos e tantos acontecimentos, o gesto imortalizado pelo romano Pôncio Pilatos iria ser tão copiado.  Pilatos, que foi prefeito da província romana da Judeia entre os anos 26 à 36 d.C ficou conhecido como a pessoa que condenou Jesus à morte na cruz, mesmo não tendo encontrado nenhuma culpa no filho de Deus.

Ao que parece, o ex-presidente da OAB-GO se identificou muito com o gesto mundialmente conhecido, vez que assumiu a mesma postura do romano mencionado diante da OAB/GO e de toda classe de advogados goianos, que hoje supera o número de quarenta mil inscritos.

No último 13.03.2015, recebemos a notícia de mais uma renúncia junto à Ordem. Já é a décima.

Conselheiros com papéis importantes junto àquela instituição e com nomes de referência na advocacia goiana estão renunciando seus mandatos, pois, assim como toda classe advocatícia, não concordam com o atual modelo de gestão e com a falta de respostas vivenciada nos corredores forenses.

O ex-presidente da Ordem Goiana governou a OAB local por mais de cinco anos. Em todo esse tempo a instituição não realizou a prestação de contas adequada e então requerida por toda uma classe carente de informações.

Apesar de ter um orçamento anual de aproximadamente R$ 30.000.000,00 (trinta milhões de reais), sabe-se hoje, depois de um desabafo realizado pelo ex-vice-presidente, Dr. Sebastião Macalé, que a instituição, mesmo com um orçamento maior que a maioria dos municípios goianos, possui uma dívida de R$ 13.000.000,00 (treze milhões de reais).

Alguns colegas já escreveram sobre o assunto, inclusive cobrando uma explicação do atual secretário de governo do Estado de Goiás, mas, nem eles, nem a sociedade tiveram a explicação desejada.

O atual presidente da OAB/GO, eleito recentemente para o chamado “mandato tampão”, Sr. Enil Filho, realizou o grande sonho de sua vida, conforme confidenciado por pessoas próximas a ele, porém, ele mesmo tem a consciência de que não sabe até quando irá durar esse sonho.

A verdade é que o atual presidente está em uma situação muito difícil, pois, não quer culpar o seu antecessor, mas também não quer assumir a responsabilidade pelo que já é publicamente conhecido.

Já nós, advogados, militantes diariamente na busca pela justiça, apenas queremos saber o que de fato ocorreu. Será que, assim como Jesus Cristo, iremos pagar por uma culpa que não é nossa?!

Aparentemente essa cobrança já começou. Hoje pagamos a maior anuidade das Seccionais da OAB.

O que a classe espera é que as mãos não sejam simplesmente lavadas, pois, em época de crise por falta de água, o volume a ser utilizado seria muito grande.

*Diego Amaral é advogado, professor universitário e pós-Graduado em Direito Civil e Processo Civil