Escolas Militares: uma herança da ditadura?

*Edilson Guerra

Há algum tempo, venho ouvindo vozes que defendem ferozmente uma possível volta dos militares ao comando da nação. Como explicar isso?

Para que você, caro leitor, compreenda melhor esses questionamentos e, onde quero chegar, é preciso explicar onde geograficamente nos encontramos e voltarmos um pouco no tempo. Não tão longe, mais precisamente à meados da década de 70, auge do regime ditatorial, onde os militares comandavam com mão de ferro todas as instâncias administrativas do país. Mas, como todos sabem, havia pressão popular pela volta da democracia e, eles sabiam que mais dia menos dia, o regime perderia sua força e entraria em colapso.

Visando um legado ideológico, no dia 18 de julho de 1976 é concebida a Lei nº 8.125, que em seu Art. 23, estabeleceu a criação do que ficaria conhecido como colégios militares. O projeto só se concretizaria alguns anos mais tarde; em 27 de julho de 1998 com as instalações da Academia de Polícia Militar em Goiânia, que provisoriamente, sediariam a então primeira unidade do Colégio da Polícia Militar, que foi ativada pela portaria nº 0604/98/PM-Gab., de 19 de novembro de 1998, dando início à estrutura de funcionamento a partir de janeiro de 1999, passando então a denominar-se Colégio da Polícia Militar de Goiás – Coronel PM Cícero Bueno Brandão. Sendo o dia 30 de novembro de 1998 a data oficial de sua instalação e posse do comandante diretor daquela unidade, perpetuando assim, a influência dos militares em Goiás e pavimentando o caminho para o retorno destes ao cenário político nacional.

Os indicadores atestam que “plano” obteve êxito, pois as escolas têm alcançado bons resultados nas avaliações nacionais que medem os índices de desenvolvimento da educação no Brasil.  Conta ainda, com a simpatia de grande parcela da população, fazendo disparar o número de escolas militarizadas, que já somam mais de 50 espalhadas pelo estado.

Os resultados positivos têm contribuído para alimentar no imaginário popular a ideia de que a solução para as mazelas que afligem o país seria o retorno de uma administração repressiva, exercida nos moldes militares.

Portanto meus caros, não é difícil compreender que a educação oferecida pelas escolas militares em Goiás está vinculada a uma herança deixada pelo regime militar. uma semente plantada, não ao acaso e, que certamente germinaria. Concluo isso, ao analisar principalmente os acontecimentos iniciados em maio de 2018, que ficou conhecido como greve dos caminhoneiros. Momento esse, em que o caos se instalou no país, gerando uma crise social e política que o brasileiro, mesmo com a sua curta memória certamente ainda não esqueceu. Mas o que me levou a esta reflexão, foi obter a informação de que proporcionalmente ao número de habitantes, o estado de Goiás foi a unidade da federação onde mais indivíduos levantaram a bandeira em favor do retrocesso que consistiria em uma possível volta aos “anos de chumbo”.

*Edilson Guerra é bacharel em direito, licenciado em História e professor na área de ciências humanas da rede pública de ensino.

1 O trecho acima é um fragmento de minha tese de pós graduação em Sociologia.