Advocacia multidisciplinar e os desafios impostos pelo mundo digital

Pablo Pereira Martins*

Atuando na advocacia há 18 anos, iniciei minha trajetória muito jovem, ainda como acadêmico de direito em fim de curso (apesar da exclusividade do exercício aos advogados regularmente inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil), sendo sócio de um amigo advogado, também muitíssimo jovem. Desse modo, há muito experimento as dificuldades e dilemas da advocacia.

De família humilde do semiárido mineiro, já formado e devidamente inscrito retornei a
minha cidade de origem – Ubaí/MG, lá pelos idos de 2009, num tempo ainda analógico, em que o acesso às informações era muito mais limitado, especialmente se compararmos com os dias atuais.

Assim como ocorre com muitos, iniciei do zero e tendo vindo de uma família sem
tradição na advocacia, tive e tenho a oportunidade de enfrentar na carne os desafios
profissionais que acompanham as mudanças sociais, num mundo cada vez mais
tecnológico e digitalmente acelerado.

As mudanças trazidas pelo mundo digital exigem profunda reflexão do advogado que
busca evoluir e inovar dentro do empreendedorismo jurídico, devendo permanecer
atento ás mudanças sociais, especialmente aquela trazidas pela facilidade no acesso em
massa de todo e qualquer tipo de informação e/ou exposição e uma carreira
essencialmente formal e que obedece a preceitos rígidos e organicamente construídas.
Atuando como advogado previdenciário, sempre encontrei muitas dificuldades nos
casos que envolvem análise sobre o estado, diagnostico e tratamento de saúde dos
clientes, uma vez que o cerne dos casos gira em torno de uma área do saber
desconhecida pela imensa maioria dos advogados, a medicina.

A advocacia que busca o recebimento de benefícios previdenciários em virtude de
problemas de saúde exige compreensão além do universo jurídico, uma vez que a
prática cobra a aplicação do direito dentro da patologia do cliente e para entender as
reais angustias sofridas, é necessário familiaridade com o assunto.

Observando as dificuldades enfrentadas no momento de comprovação da
enfermidade/incapacidade, seja pela ausência completa de documentação médica
(relatórios, exames, prontuários de internação, evolução da(s) patologia(s), etc.), seja
pela insuficiência probatória da documentação existente, criamos um núcleo de saúde
que, chefiado por uma enfermeira, tem a função prévia de analisar os casos, com foco
direto na comprovação da enfermidade como incapacitante. Compreendendo as
dificuldades o setor estabeleceu elo com profissionais médicos, hospitais e clínicas de
exames de várias especialidades, facilitando no diagnóstico muitas vezes inexistente e
reunindo documentação e informações essenciais ao caso, encurtando
significativamente o tempo de conclusão e aumentando o percentual de resultados
positivos dos casos patrocinados pelo escritório.

Vale observar que a configuração dos modelos societários à partir do advento da
internet em massa e literalmente à palma da mão, trouxe também reflexos negativos,
notados, por exemplo, no surgimento de problemas psiquiátricos e/ou psicológicos
ligados ao uso excessivo dos meios digitais.

Outra importante adaptação pela qual estamos passando diz respeito ao modelo de
captação da clientela. Antes, num tempo essencialmente analógico, praticávamos o
formato tradicional do “boca a boca”. Contudo, diante do novo mundo digital que se
apresenta tal prática se tornou insustentável, quando praticada isoladamente.

No mundo contemporâneo, a presença digital é importante para a vida social e profissional.
Exemplificando claramente, muitas pessoas consultam a internet antes de comprar algo,
inclusive serviços jurídicos, afinal, “quem não está na rede, não está no mundo”.
Para os advogados o uso de anúncios pagos em plataformas digitais para promover
serviços jurídicos, o chamado tráfego pago, é uma estratégia de marketing digital que
pode ajudar a aumentar a visibilidade do escritório e a atrair novos clientes. Para tal a
advocacia se utiliza de ferramentas como Google Ads, Facebook Ads e LinkedIn Ads.
As campanhas podem ser criadas para atingir um público específico, com base em
interesses, palavras-chave ou dados demográficos.

Especialmente para uma advogado do interior do sertão mineiro, o tráfego pago é uma
estratégia extremamente eficaz para alcançar clientes além das limitações regionais e
que estão procurando por serviços jurídicos, valendo anotar que a exposição de
anúncios deve se dar de maneira ética, transparente e informativa, respeitando as
normas estabelecida pela OAB.

Com a necessidade de aprimoramento interdisciplinar e o advento da internet em massa,
fenômeno social que modificou completamente os rumos sociais, a advocacia que aos
poucos deixa de lado o tradicional formalismo excessivo e se aventura numa carreira
multifacetada socialmente e que se mostra mais aberta a compreender as rápidas
dinâmicas apresentadas nesse novo mundo, demonstrando que advogar vai além de
aplicar o direito e que, portanto, o novo advogado(a) deve atenção ao aperfeiçoamento
jurídico e também de outros ramos do conhecimento humano.

*Pablo Pereira Martins é especialista em Direito Previdenciário e Consumidor Bancário. Sócio-proprietário do Escritório Pereira Martins – Advocacia.