Termos ligados às redes sociais aparecem mais de 4 mil vezes em processos do TJGO

Num simples levantamento feito pelo sistema de buscas do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO) sobre o número de vezes que os termos relacionados às mídias sociais aparecem em sentenças e despachos, constatou-se que a palavra Facebook foi mencionada 1.807 vezes de 2014 até agora. Já o WhatsApp foi citado 2.366 vezes, o que resultou em mais de 4,1 mil referências, isso se não consideramos o Instagram, que possui menos de 90 registros. Não há como afirmar que essas menções estejam relacionadas a agressões contra mulheres ou feminicídios, mas tem-se uma ideia de como as redes sociais estão imiscuídas nos conflitos modernos.

Motores para a violência contra a mulher, principalmente nas relações abusivas ou que envolvem infidelidade, as redes sociais protagonizaram o enredo do assassinato recente de uma servidora pública, asfixiada pelo namorado. Ao ser preso, ele afirmou que a briga que resultou na morte da moça teria começado depois que ele recebeu um vídeo pelo aplicativo de mensagens WhatsApp. Também em Goiânia, em setembro do ano passado, um empresário de 27 anos confessou que matou a tiros um casal, depois que uma das vítimas enviou para a mulher dele (prima da vítima) uma foto em que ele aparecia com várias mulheres em uma festa.

De acordo com a secretária do 2º Juizado da Mulher da comarca de Goiânia, Lívia de Souza Conceição, na unidade, onde correm cerca de 7 mil processos, prints de telas com ameaças, injúrias e xingamentos são uma constante nos processos. Para ela, grande parte dos problemas ocorre porque a rede social é um fenômeno novo, que surgiu há dez anos, e os usuários ainda não têm consciência de sua amplitude. “Pode parecer simples e inofensivo, mas o ato de compartilhar algo pode ser ofensivo para alguém e até resultar numa atitude extrema, como foi o caso do empresário que assassinou o casal.

As redes sociais e seu impacto nos crimes de gênero estão entre os assuntos tratados em círculos restaurativos que serão realizados na 10ª Semana da Justiça Pela Paz em Casa, que começa nesta segunda-feira (5), às 8 horas, na Universidade Salgado de Oliveira (Universo). O evento, criado em 2015 pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), prevê uma força-tarefa para julgamento de processos e realização de júris relacionados à Lei Maria da Penha. Mais de 2 mil processos serão priorizados em todo o Estado de Goiás e, apenas em Goiânia, deverão ser apreciadas 300 ações desse tipo, durante os cinco dias do evento.

A divulgação desses crimes, conforme Lívia de Souza, tem resultados positivos. Segundo ela, cada vez que um caso de feminicídio tem grande repercussão, há um aumento no número de medidas protetivas. “Não temos dados, mas observamos esse crescimento cada vez que a imprensa divulga esses casos, que encorajam as mulheres, que ficam com medo de que isso ocorra com elas”, afirmou.

Comunicação não violenta
O evento trará, ainda, dentro desse tópico, palestras sobre como a comunicação não violenta pode ajudar nas relações; além de discussões sobre os tipos de violência e as soluções para superá-las. Visando a melhoria da autoestima, um dos aspectos que ficam bastante prejudicados nas mulheres que passam por esse tipo de situação, a programação do evento inclui oficinas de maquiagem, corte, penteados, esmaltação, massagens e exercícios de alongamento. Para participar da palestra sobre mídias sociais, no Roda de Conversas programado para o dia 8, às 19 horas, os interessados deverão levar óleo, bolachas ou fraldas, que serão doados para o Centro de Valorização da Mulher (Cevam).

Parceiros
Visando uma maior efetividade na iniciativa, a Coordenadoria da Mulher fez parcerias com presidentes das associações de bairros de Goiânia, líderes religiosos e representantes do Cevam, Centro de Referência da Assistência Social (Cras) e Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), entre outros.