Congresso vai continuar acompanhando caso de mulher torturada pelo ex-marido em Goiânia

O Congresso Nacional vai continuar a cobrar providências sobre o caso da operadora de caixa Mara Rúbia Guimarães, de 27 anos, que teve os olhos perfurados pelo ex-companheiro em agosto. Ela e sua advogada, Darlene Liberato, encontraram-se, nesta quarta-feira (6), com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, acompanhadas pelos presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves, e do Senado, Renan Calheiros, e ainda pela bancada feminina das duas Casas.

Calheiros informou que vai criar uma comissão para acompanhamento de casos de violência contra a mulher. O assunto já foi tema de uma comissão parlamentar de inquérito formada por deputados e senadores. A presidente da CPMI, deputada Jô Moraes (PCdoB-MG), avaliou que a articulação entre as diferentes esferas de poder é fundamental para combater violências como a sofrida por Mara Rúbia. “Para nós, a questão essencial é que se instaura hoje uma rede de enfrentamento articulada pelos principais órgãos do Estado brasileiro para responder aos erros do próprio Poder Público”, afirmou Jô.

Ao final do encontro com o ministro da Justiça, Henrique Eduardo Alves destacou que, na próxima semana, dará prosseguimento ao acompanhamento do caso pela Câmara.

Omissão do Estado – Segundo a advogada Darlene Liberato, nos últimos dois anos, Mara Rúbia pediu por sete vezes proteção contra o ex-marido. Em julho, o agressor, Wilson Bicudo, chegou a ser preso em flagrante por tentativa de homicídio. Ainda assim, logo foi solto e, em 29 de agosto, torturou a ex-mulher de diversas formas, inclusive perfurando os olhos da vítima com uma faca de cozinha.

Além da falta de proteção, Darlene relatou que Mara Rúbia teve problemas em conseguir a guarda do filho, que chegou a ficar com a avó paterna mesmo após o ocorrido. A advogada citou problemas também na condução do caso pelo Ministério Público (MP) em Goiás. “Mesmo com a moça nesta situação – cega, com dois braços amarrados, sufocada –, o ilustre representante do MP entendeu que não havia provas de que isso era tentativa de homicídio”, comentou.

O MP e o Poder Judiciário tiveram posicionamento diferente sobre o caso. “Ao desqualificar o crime para lesão corporal, o Ministério Público reduziria a pena pela metade, o que significa que, em um ano, ele [o ex-marido] estaria solto, para cumprir o que prometeu: voltar e matar a Mara Rúbia. Já o Dr. Jesseir Coelho de Alcântara, juiz 1ª Vara Criminal de Goiânia, classificou o episódio como tentativa de homocídio. Quando há essa divergência, quem resolve é o procurador-geral do estado”, explicou a advogada. Ainda não há uma definição da Procuradoria Geral do Estado de Goiás sobre o episódio.

Competência estadual
José Eduardo Cardozo explicou que, por se tratar de crime de competência estadual, não tem como pedir uma investigação da Polícia Federal. Ele informou, no entanto, que o Ministério da Justiça vai se empenhar na apuração dos fatos, pedindo providências ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e ao governo de Goiás. “Há certas situações que não podem ser aceitas de forma alguma, pelo fato em si e pela dimensão pedagógica do não aceitar.”

A reunião com o ministro da Justiça foi marcada pelo presidente da Câmara após a bancada feminina, com a presença de Mara Rúbia, interromper a sessão da Câmara dos Deputados de ontem (5) para sensibilizar os deputados sobre o caso. “Percebemos uma série de equívocos de diferentes agentes públicos. Queremos garantir que o Estado indenize vítimas de violência que não forem devidamente protegidas e que tenham o conjunto dos seus direitos garantidos”, disse Jô Moraes, coordenadora da bancada. (Fonte: Agência Câmara de Notícias)