A lição alemã

Não gosto de futebol. Nunca gostei. Tenho motivos de sobra para ter sido sempre radicalmente contra a realização da Copa no Brasil. Mas neste artigo não quero expor minhas razões. Seria repetir o óbvio.

Tampouco tenho interesse – pois sequer tenho condições – de discutir os motivos da derrota e do massacre alemão em terras brasileiras.

Não obstante tudo isso, gastei noventa minutos em frente à televisão; não foi em vão.

Talvez por não assistir um jogo como um telespectador que aprecia futebol, apenas dois momentos me chamaram a atenção. E incrivelmente, nos dois, as situações foram quase idênticas.

Em uma delas, ainda no primeiro tempo, um jogador brasileiro invade a área do adversário e, quando a zaga alemã lhe tira a bola, o jogador brasileiro dramatiza uma queda tentando forjar uma falta.

Não muito tempo depois, a mesma coisa acontece. Sem que houvesse qualquer falta, um jogador brasileiro cai, rola e reclama do juiz pela falsa falta que não foi apitada.

Foram os únicos dois momentos em que se viu os jogadores alemães partindo nervosos em direção aos jogadores brasileiros, com dedo em riste e repreendendo-os pela falta – não pela fingida, mas pela de caráter.

Aqueles dois momentos já me valeram. Foi a demonstração inequívoca da diferença entre brasileiros e alemães. Foi a exteriorização para o mundo da nossa falta de ética, de honestidade, da nossa corrupção que, como eufemismo, sentimos orgulho em alcunhar de “malandragem”. O famoso e desprezível “jeitinho brasileiro”.

A indignação dos jogadores alemães com a conduta brasileira, a repreensão ostensiva e televisada, somadas à avalanche de gols foi o recado alemão não ao time, mas aos brasileiros.

O que funciona não é a malandragem, o jeitinho.

O que tornou o futebol, o povo e a nação alemã paradigma de eficiência e qualidade é a dedicação, o comprometimento, a eficiência e principalmente, a ética, a honestidade.

Enquanto permanecermos com a distorcida visão brasileira de que “na hora daremos um jeitinho” permaneceremos escravizados por políticos um pouco mais “espertinhos” que nós.

Com Caetano sempre me pergunto: “Será que nunca faremos senão confirmar a incompetência da América Católica?”.

*Carlos Vinícius Alves Ribeiro, Mestre e Doutorando em Direito do Estado pela USP, Professor de Direito Administrativo e Urbanístico, Promotor de Justiça