O Gestor de Herança

João Ricardo S. Junqueira

Recentemente, li em uma publicação de grande circulação nacional uma matéria, muito interessante por sinal, sobre as profissões do futuro. Nela, futurologistas como Thomas Frey, diretor da conceituada DaVinci Institute, consultoria americana especializada em pesquisas sobre o futuro e que têm entre seus clientes NASA e IBM, traça um panorama para os próximos anos, onde diversas profissões e postos de trabalho serão extintos por conta do avanço da tecnologia.

Dentre as profissões do amanhã, uma em especial chamou a minha atenção, a do Gerente de Herança, que diante do grande número de pessoas que no futuro não terão herdeiros, seria o responsável por garantir que os bens deixados sejam aplicados naquilo que o dono dos bens ansiava.
Essa profissão surgiria devido à constante queda no número de nascimentos no mundo e o aumento da expectativa de vida o que leva automaticamente, ao envelhecimento da população mundial. Com isso, segundo os especialistas, as pessoas necessitariam cada vez mais de profissionais especializados para auxilia-los. Nesse cenário é que entraria, o que prefiro chamar de Gestor de Herança.

Diante das atribuições que esse gestor teria, acredito que o profissional que mais se adequaria hoje à essa futura realidade seria justamente o advogado. E faço aqui as considerações que alicerçam essa minha afirmação.

Geralmente o advogado é o guardião da manifestação da última vontade de uma pessoa através do testamento, onde ela dispõe da melhor forma que lhe convier, de seus bens. Juridicamente o termo “herança” significa o patrimônio, incluindo bens, direitos e dívidas, deixados por alguém em razão do seu falecimento. Afora seus familiares mais próximos, talvez o advogado seja aquele que mais conhece os anseios e os desejos do dono do patrimônio que virá a ser partilhado através da herança.
Partindo do princípio de que a herança é o cerne dessa futura profissão, o advogado sai na frente de outros profissionais por ter, em muitos casos, acesso direto a ela. Entretanto, não basta conhecer os anseios do seu cliente para que esse profissional se torne um Gestor de Herança. Gerir significa administrar, ou seja, tomar decisões e atitudes que visem à ocorrência de uma séria de ações que irão produzir o resultado desejado.

É nesse ponto que o advogado pode se deparar com as suas limitações. Os atuais cursos de direito ainda continuam priorizando as técnicas jurídicas em detrimento da construção de profissionais gestores. É obvio que a técnica jurídica é o objeto da profissão de advogado, mas a cada dia que passa, conhecer de gestão e empreendedorismo se torna fundamental para que um escritório de advocacia atinja sua plenitude. São esses também conhecimentos fundamentais para o Gestor de Herança.

Juridicamente falando, essa profissão irá demandar que o advogado tenha conhecimento de diversas áreas do direito. Imagine se o cidadão tenha destinado todos os seus bens para o time de futebol do coração! O advogado-gestor deverá ter o mínimo de conhecimento de Direito Desportivo por exemplo, para que consiga cumprir seu papel de administrar os desejos do seu cliente. Podemos analisar em outro cenário, um empresário que tenha deixado sua empresa para seus funcionários. Ora, além do conhecimento em Direito Empresarial, o profissional deve entender de Tributário, Trabalhista, Cível, Consumidor, etc.

Fora da esfera jurídica, o advogado deve entender ainda de recursos humanos, da área financeira, contábil, dentre outras, o que nos leva a imaginar que dificilmente teremos uma pessoa exercendo a função de Gestor de Herança, e sim uma equipe multidisciplinar, o que elevaria a probabilidade de sucesso da aplicação desse patrimônio. Entretanto, o profissional que encabeçaria essa equipe seria o advogado.

Para que o profissional possa estar à frente dessa equipe, é necessário entendermos que muitas das vezes devemos buscar também essa qualificação fora dos cursos de direito, em áreas que entendemos seja vital para a gestão de patrimônio, como contabilidade, marketing, vendas, etc., áreas essas que na maioria das vezes estão muito distantes da realidade de um advogado.

Por fim, o que a matéria sobre as profissões do futuro deixa claro, é que, qualquer que seja a área de atuação de um profissional, ele deverá acompanhar a evolução do mercado como um todo, aprendendo sempre sobre as novas tecnologias e prevendo de que maneira poderá contribuir, aprender e continuar crescendo nesse cenário.

Agora resta-nos aguardar o que o futuro nos reserva nos próximos 30 a 50 anos quando saberemos ao certo quais dessas profissões do amanhã se tornaram realidade e quais ficaram somente na previsão dos futurologistas. A única coisa certa, é de que sem dúvida a tecnologia afetará diretamente a forma como iremos trabalhar no futuro.

*João Ricardo S. Junqueira, é advogado especialista em Direito Empresarial, Pós-graduando em Direito Civil e Processual Civil e Membro da Comissão de Direito Empresarial da OAB/GO.