Quase 5 meses após atentado, advogado Walmir Cunha retoma atividades

Walmir Cunha já consegue digitar
Walmir Cunha já consegue digitar sozinho as peças processuais e o manifesto que está elaborando

 

Marília Costa e Silva

Quase cinco meses após ter sido gravemente ferido por uma bomba enviada ao seu escritório, no Setor Marista, em Goiânia, o advogado Walmir Cunha, de 36 anos, começa a voltar sua rotina de trabalho. Com exclusividade, ele conta ao Rota Jurídica que enquanto aguarda a conclusão das investigações sobre o atentado sofrido no último dia 15 de julho ele alterna sua rotina entre as severas sessões de reabilitação e os atendimentos aos clientes. Ele também tem achado tempo para a confecção de um manifesto em busca de apoio legislativo para propositura de leis que possam garantir maior segurança aos profissionais do Direito.

Segundo Walmir, o atentado não o desencorajou para o exercício da profissão. Ao contrário, garante que está cada vez mais estimulado ao trabalho. Prova disso é que ele nem bem deixou as muletas usadas em virtude do ferimento sofrido no pé direito, e já está atendendo clientes inclusive fora do escritório. Nos últimos dias, por exemplo, ele viajou ao Rio de Janeiro, São Paulo, Distrito Federal, Tocantins e Maranhão. “A minha volta ao trabalho prova que continuarei sendo um advogado militante, atuante e que acredita no Direito de quem eu represento”, frisa.

O profissional que contratou temporariamente para ajudá-lo na digitação das peças processuais também está sendo dispensado. Isso porque Walmir já consegue digitar sozinho. Aos poucos ele está usando a mão direita e os dois dedos (o anular e o mínimo) da mão esquerda que foram preservados. “Eles começam a ser usados após nove cirurgias de reconstituição de parte da minha mão”, explica Walmir, que ainda sente dores muito fortes durante as sessões periódicas de fisioterapia. “Elas tem sido fundamentais para que eu consiga restabelecer os movimentos já que perdi não só três dedos mas cerca de 70% da mão esquerda”, esclarece.

Walmir tem feito palestras sobre compliance
Walmir tem feito palestras sobre compliance

E a tarefa de digitação tem sido frequente pois Walmir deu início a elaboração de um manifesto que deve concluir nos próximo dias. Entre as novidades, estão a sugestão de mudança legislativa que permitirá tornar crime hediondo o atentado a qualquer agente considerado indispensável à administração da Justiça. “Vou percorrer ainda este mês todas as seccionais da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em busca de apoio ao documento, que deverá ser entregue ao Conselho Federal da OAB, que deverá encaminhá-lo ao Legislativo”, frisa.

Além de toda essa mobilização, Walmir ainda acha tempo para planejar seu novo escritório. Ele está deixando a sociedade com os profissionais da KBR Advogados para, brevemente, inaugurar um novo local de trabalho no alto do Bueno. “Será um trabalho solo, onde continuarei atuando nas áreas do Direito Empresarial e Agrário”, afirma.

Palestras
Walmir também tem cumprido agenda de palestras a empresários e acadêmicos de Direito sobre o compliance, assunto tem ganhado a pauta das empresas tanto em razão da Lei de Combate à Corrupção quanto pelo clamor social generalizado por mais coerência e ética nas mais diversas instâncias.

A estreia foi aos alunos do auditório do Campos V da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), no Setor Jardim Goiás. Walmir é presidente do Instituto de Compliance Aplicado, organização pioneira no Centro-Oeste dedicada ao estudo, aplicação e difusão das práticas de compliance, que visa criar a cultura anticorrupção dentro das organizações privadas.

Investigação

Delegado apresenta imagens do suspeito
Delegado apresenta imagens do suspeito

As atividades de Walmir Cunha são retomadas enquanto a Polícia Civil investiga a autoria do atentado. O que se sabe é que a pessoa que enviou a bomba ao seu escritório tem cerca de 60 anos.  O artefato explodiu quando foi aberto pelo causídico. As imagens do autor do crime já foram encontradas e estão sendo divulgadas em várias cidades. Isso aconteceu graças ao depoimento do motoqueiro contratado para levar o artefato ao escritório do advogado. A polícia pede para que se alguém identificar o homem que denuncie no telefone 197.

As imagens do homem foram encontradas em uma câmera de segurança, no setor Jardim Guanabara. Elas mostram um homem passando pela calçada momentos depois de negociar a entrega da encomenda, contendo o artefato explosivo, com um motoqueiro da região. O motociclista, que não sabia do teor da embalagem, cobrou R$25 pela entrega. Ele foi ouvido pela polícia, que descartou participação dele no crime. De acordo com o delegado  responsável pelas investigações Valdemir Branco, o crime foi planejado e executado com precisão, o que leva a crer que um policial pode estar envolvido no atentado.