Governador contraria OAB-GO e autoriza curso de Direito da UEG para Palmeiras

O governador Marconi Perillo iniciou por Palmeiras de Goiás, no início da noite desta segunda-feira (11) uma peregrinação por várias cidades goianas para o lançamento de novos cursos em unidades da Universidade Estadual de Goiás – UEG. Em Palmeiras, ao lado do reitor Haroldo Reimer, do prefeito Vando Vito, do secretário de Desenvolvimento – SED -, Francisco Pontes, do deputado federal, Giuseppe Vecci e lideranças regionais, o governador autorizou a criação do Curso de Direito para a UEG local com a providência imediata de abertura de edital para o concurso público com vistas ao provimento de vagas no cargo de docente de ensino superior para a disciplina.

A novidade contraria pedido feito pela seccional goiana da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em fevereiro passado, que é contra a abertura de novas faculdades de Direito.  A OAB-GO explica que existem atualmente em Goiás 45 cursos de Direitos, o que seria “mais que suficiente para a demanda ora existente”. Para a presidência do órgão, a criação de um novo curso poderia colaborar com a precarização do ensino jurídico.

“Dos 2.100 cursos de Direito existentes no mundo, 1.283 encontram-se no Brasil, o que já é inconcebível, de modo que a UEG não deveria tornar ainda mais aguda essa situação”, afirmou Lúcio Flávio. Além disso, a Ordem indica que a Estadual não atende as premissas do Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia e da OAB no que diz respeito à situação geográfica de novos cursos, à estrutura física, à existência de biblioteca com acervo adequado, dentre outros.

Criação de novos cursos

A determinação em avançar na criação de novos cursos para a UEG, ampliando o leque de disciplinas oferecido pela universidade com a consequente criação de facilidades para o acesso dos alunos, representou, na avaliação do governador, a coroação de um trabalho visionário iniciado em 1999, quando chegou ao governo do Estado pela primeira vez.

Lúcio Flávio é contra abertura de novo curso

Naquele ano, lembrou, junto com a UEG, e a par das enormes dificuldades para superar os problemas herdados da administração passada, assumiu o desafio de instituir a Bolsa Universitária. “Hoje estamos com cerca de 23 mil alunos na UEG e 180 mil beneficiários da Bolsa”, comemorou ao informar que logo no início do ano que vem irá lançar mais 10 mil bolsas universitárias e até o final de 2018 outras 10 mil, o que elevará o número de alunos beneficiados a 200 mil, meta estabelecida em seu quarto mandato.

Ao comemorar o que considerou números expressivos conquistados pela educação de Goiás, além da qualidade do ensino atestada pelo Ideb de escolas públicas estaduais, Marconi disse que o resultado reflete a determinação de seus governos em assumir compromissos e cumprir metas. “O que distanciou o povo dos políticos foi a falta de compromisso, o discurso fácil, a retórica. Os governos precisam apresentar resultados, mostrar a que vieram”, declarou.

Iniciado por Palmeiras, o giro por unidades da UEG visando o lançamento de novos cursos a serem implementados já a partir do próximo ano letivo, segue nesta terça-feira (12). O governador estará amanhã em Itumbiara, onde lançará o primeiro curso de medicina da UEG, depois irá a Pires do Rio e Morrinho para lançar mais um curso de Direito e na quarta-feira repetirá o gesto nas unidades de Aparecida de Goiânia e Uruaçu.

Confira o teor da nota divulgada em julho contra a abertura de curso de Direito pela UEG

A Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás, diante da aprovação pelo Consind, órgão vinculado à Secretaria de Gestão E Planejamento do Estado De Goiás, do pleito da Universidade Estadual de Goiás (UEG) de abertura de vagas para provimento, via concurso público, de cargos de professores para o curso de Direito, o que demonstra de forma inequívoca a intenção da UEG em criar cursos de Direito em nosso Estado, vem manifestar seu posicionamento contrário a este intento, tendo em vista o que se segue:

1.A OAB-GO, no cumprimento de seu dever legal, nos termos dos artigos 44, I e 54, XV do Estatuto da Advocacia, tem lutado de forma incansável pela melhoria da qualidade dos cursos jurídicos em nosso Estado. Nesse sentido, entende a Ordem que o número de 45 (quarenta e cinco) cursos de Direito já existentes em Goiás é mais que suficiente para a demanda ora existente e que a criação de novos cursos jurídicos tão somente irá colaborar com a precarização do ensino jurídico.

2. Analisando as premissas do art. 83 do Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia e da OAB, tais como a necessidade social de criação de novos cursos, a verossimilhança do projeto pedagógico dos mesmos, situação geográfica desses novos cursos, estrutura física, bem como a existência de biblioteca com acervo adequado, dentre outros, conclui-se que não se justifica a criação dos novos cursos de Direito em Goiás, tal qual intenciona fazer a UEG.

3. Dos 2.100 (dois mil e cem) cursos de Direito existentes no mundo, 1.283 (mil, duzentos e oitenta e três) encontram-se no Brasil, o que já é inconcebível, de modo que a UEG não deveria tornar ainda mais aguda essa situação. Não fora suficiente, existem no Brasil mais de 1.070.000 (um milhão e setenta mil) advogados e somente a seccional goiana possui mais de 50.000 (cinquenta mil) inscritos, números que comprovam a desnecessidade de novos cursos jurídicos em território goiano.

4. A criação de cursos de Direito implica não somente na contratação de professores, como deliberado pelo Consind. Exige a imposição da qualidade mínima, o que demanda uma série de medidas estruturais, como a implementação de núcleos de prática jurídica, bibliotecas com acervo mínimo de 10.000 (dez mil) títulos jurídicos, pesquisa, núcleo docente estruturante ativo, extensão jurídica realizada com outros atores do mundo jurídico, matrizes curriculares contemporâneas e inseridas na realidade local, dentre outros requisitos, que não são edificados de forma abrupta e sem discussão com a sociedade civil e mais especificamente com a comunidade jurídica do Estado, notadamente com a Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás.

Assim sendo, a OAB-GO requer que a UEG e o Governo de Goiás reavaliem esse posicionamento de criação de novos cursos jurídicos em Goiás, pelos motivos retro-referidos, diante da responsabilidade de que, se não atendida esta solicitação, obrigará a Ordem a buscar medidas de conteção da multiplicação de cursos de direito em nosso Estado.

Lúcio Flávio Siqueira de Paiva
Presidente OAB

Rubens Fernando Mendes de Campos
Presidente da Comissão de Educação Jurídica/OAB-GO