Advocacia na pandemia

*Julio Meirelles

Antes mesmo de ingressarmos no mercado de trabalho, na vida acadêmica somos ensinados a compreender que a Advocacia não é profissão para covardes. A sentença de Sobral Pinto, renomado jurista e destacado defensor do Estado de Direito, foi proferida como gatilho de afirmação e encorajamento na luta contra a supressão de garantias e violação de direitos humanos. Eram outros tempos de nossa história, mas se estivesse vivo seria-lhe oportuno repetir as mesmas palavras hoje.

Quem opta por cursar Direito e decide seguir os trilhos da Advocacia carrega em si o amor genuíno pela profissão. É preciso ter foco e determinação para portar diariamente a Identidade de Advogado da OAB, levantar a cabeça e enfrentar o mercado de trabalho, atualmente disputado por milhares de colegas em Goiás.

Não bastassem os desafios inerentes à nossa realidade profissional, estamos sendo agora obrigados a duelar diariamente com as consequências drásticas da pandemia da Covid-19. Muitos profissionais não desistiram, estão se reinventando e, literalmente, tirando coelhos da cartola. Mas a superação, infelizmente, não é opção para muitos.

A situação é drástica. Todavia, a falta de estabilidade e a incerteza no futuro não podem ser empecilho para o fechamento de escritórios e o abandono de um sonho. Nem mesmo neste momento de tamanha dificuldade.

É fundamental que a palavra de ordem seja: solidariedade! A realização de parcerias entre colegas para condução de processos, diligências, confecção de peças processuais se torna um interessante caminho de amparo aos que mais necessitam, mas sobretudo de troca de conhecimentos e expertises profissionais.

Outra alternativa seria a implementação de ações emergenciais, por exemplo, nas áreas de Direito do Trabalho e Tributário, cobrando das autoridades políticas — e político-classistas — iniciativas imediatas de suporte ao advogado empreendedor, que muito tem sofrido com a recessão e o inevitável retrocesso econômico.

Ainda, quanto ao jovem advogado, a interação com colegas, mesmo on-line; a imersão em cursos digitais, a produção de artigos, vídeos em redes sociais e debates de assuntos de interesse do público podem reforçar seus conhecimentos e alavancar sua identidade profissional — é claro, dentro do que é permitido pelo Código de Ética e Disciplina da OAB.

É preciso solidariedade, criatividade e foco, tendo a certeza de que a crise é temporária e de que tudo isso irá passar. Trabalhando com afinco e união, sairemos dessa turbulência reconstruídos e fortalecidos, melhores profissionais.

*Julio Meirelles é advogado eleitoralista e ex-secretário-geral da OAB-GO