Tão próximos e tão distantes

A realidade americana comparada com a brasileira nos permite sentir na pele como as coisas funcionam em países diferentes do mesmo continente.

Um amigo, na área de embarque internacional no Brasil, dirigindo-se aos Estados Unidos, foi indagado pelo agente alfandegário sobre a composição química do shampoo que ele levava naquelas embalagens próprias para transporte em bagagem de mão. Ao responder que não sabia, até com alguma estranheza, foi dito pelo agente que então ele deveria descartar o produto.

Foi quando o amigo passageiro indagou sobre a regra onde tal norma estaria inscrita. A resposta foi a melhor: a regra é secreta. Não poderia ser mostrada.

Nós, brasileiros, somos tão acostumados com os desmandos normativos e legislativos que quando nos é imposto um desmando autoritário (não que os demais não fossem) fica-se até com a impressão de legitimidade.

Vivemos como aquele elefante que desde pequeno foi acorrentado no interior da caverna. Que se acostumou com as peias e com os grilhões. Quando, finalmente, é libertado, não arredou as patas de onde estava. A constrição fez com que ele se acostumasse com a não liberdade, a ponto de pensar – elefante deve pensar bem mais que muitas autoridades brasileiras – que jamais poderia sair dos limites que sempre foram impostos pelas correntes.

Pelas bandas americanas, cada um faz o que quer. Sabendo de antemão as consequências reais de seus atos e conhecendo previamente as limitações razoáveis impostas pelo Estado para a convivência coletiva.

O cidadão não é tratado como um curatelado ou tutelado. Não se vê paternalismo estatal tendente a subtrair a dignidade das pessoas, substituindo-as em decisões que afetam apenas suas esferas individuais.

O Tio Sam prima pela dignidade. Não essa ornamental em tantas de nossas decisões judiciais. Mas aquela com conteúdo jurídico. A dignidade significante de autonomia individual. A dignidade como o direito das pessoas serem aqueles que quiserem ser, fazer aquilo que quiserem fazer, desde que não haja qualquer consequência maléfica que atinja terceiros.

Nós, brasileiros, somos acostumados com o complexo de pequenez. Até gostamos de não ter tanto poder de decidir como será nossa vida. Isso nos retira a responsabilidade pelos fracassos, mas perdemos todo o protagonismo das vitórias.

Prefiro o estilo primo rico. E que cada um assuma as consequências de suas escolhas.