Recuperação judicial para “ganhar tempo”? Fuja!

Juliana Biolchi*

Quem é da área de reestruturação, costuma ouvir muito esse tipo de depoimento: entramos com a Recuperação Judicial para ganhar tempo. Muito embora, sim, por efeito das técnicas processuais, previstas na Lei de Recuperação de Empresas, obter fôlego para o negócio é um dos objetivos do instituto, subjaz a essa fala, em muitos casos (e as exceções confirmam a regra) há completa falta de estratégia.

Eu costumo dizer que o foco é todo contrário: sair a tempo. E para isso, um plano consistente, que contemple mudanças – que começam na operação, passam por vendas, estrutura financeira, entre outras áreas importantes – e que desemboque na estratégia jurídica, é a trilha ideal. Aliás, dependendo das circunstâncias, serve até mesmo para evitar o pedido, ou mesmo escolher uma recuperação extrajudicial.

Os dados dos observatórios de recuperações judiciais, que existem no Brasil (e são três até o momento: nos estados de SP, RJ e RS), mostram que, em média, para cada 10 pedidos, existem 7 empresas que conseguem aprovar o plano, o que aumenta as chances de saírem “vivas” do processo. Ainda que seja um número muito maior do que a lenda dos 1% (mito que surgiu de levantamentos sem base científica, feitos nos primórdios da vigência da Lei de Recuperação), podemos ser melhores.

E um dos pontos de aprimoramento é justamente encarar o instituto como parte de uma solução maior, que precisa ser estrutural (e não apenas “cosmética”). Outro tema relacionado é o conflito de interesses, que muitas vezes há naqueles casos em os ganhos com a passagem do tempo (esticando o problema), em detrimento do que a empresa precisa (resolver logo suas deficiências e se reinventar), são priorizados.

A dica para não cair em “furada” é entender qual o plano e identificar se está sustentado em três pilares: melhoria de performance, alongamento (e redução) de dívida e captação de novos recursos. Se não for isso, cuidado: quem não planeja, planeja falhar!

*Juliana Biolchi é advogada, mestre e especialista em revitalização de empresas. É empresária com mais de 25 anos de experiência e palestrante de congressos nacionais e internacionais na área de insolvência empresarial. Diretora da Biolchi Empresarial.