Ideias sobre fraternidade, educação e a Campanha da Fraternidade de 2022

*Fernanda Santos 

O que significa efetivamente falar com sabedoria e ensinar com amor? É um posicionamento de quem deseja entrar em contato com o outro, assim como apregoa as preciosas lições de Ingedore Villaça Koch, sobre a comunicação eficiente entre emissor e receptor. Ensinar com amor nada mais é do que um ato de agir, de ajudar o outro em suas dúvidas e demandas educacionais. Educar e repassar conhecimento, mesmo nas ciências sociais e jurídicas, não é um ato isolado, não é o condicionamento de um juízo de valor, ou um adestramento de animais, ou uma doutrinação, é encontro no qual todos são educadores e educandos ao mesmo tempo, quando se leciona a respeito da compreensão dos impactos do tripé legislação/doutrina/jurisprudência no entendimento dos casos concretos submetidos, a apreciação do Poder Judiciário.

E neste ano, independente da fé que eu ou o leitor destas linhas professem, a Campanha da Fraternidade da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB quis acolher, como tema de sua empreitada, a Educação, que sofreu grandes impactos com a pandemia da Covid – 19, por falta de tecnologias, de práticas efetivas de transmissão de conhecimento para o trabalho a distância (foi uma ruptura de condutas feitas à fórceps), que eclodiu na falta de estrutura das famílias para ajudarem os alunos em casa a lidarem com seus estudos e rotinas e isso tem todos os níveis, desde a educação básica, até a superior. E também não podemos deixar fora de discussão a sobrecarga absurda dos profissionais da Educação, ao repassar o conhecimento em condições atípicas.

E uma citação bíblica ressaltada na Campanha da Fraternidade, chama muito a atenção: “Jesus fala com sabedoria, ensina com amor”. O apóstolo João apresenta nesta menção bíblica, uma cena bastante iluminadora sobre o modo de agir de Jesus como MESTRE. O texto é conhecido como a “Parábola da Mulher Adúltera” e está localizada no livro do apóstolo João capítulo 08, versículos 01-11. E conceitualmente, ao se falar com sabedoria, tal baliza se refere a saber e saber repassar aos outros como nas preciosas lições de Ingedore Villaça Koch, coisas importantes, para guiar as escolhas que precisamos fazer todos os dias.

Ter sabedoria ao lecionar, ainda mais em relação as ciências sociais e jurídicas, também diz respeito a ser prudente, a ter razão e conhecimento pleno nas atitudes, e na pronta divulgação do conhecimento social e jurídico. E ao se falar com sabedoria: se faz tal baliza, que ao se falar primeiramente requer escuta e não apenas ouvir, mas aproximar-se como aquele que quer entender a situação e contribuir de alguma forma, conduzindo à necessária tomada de decisão da parte de quem escutou baseando-se no discernimento, daquilo que foi repassado da melhor forma possível, o que é inerente as ciências sociais e jurídicas, quando se leciona a respeito da compreensão dos impactos do tripé legislação/doutrina/jurisprudência no entendimento dos casos concretos submetidos, a apreciação do Poder Judiciário, e que de alguma forma impactam a sociedade.

E com o tema “Fraternidade e Educação”, com o lema “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Livro de Provérbios – capítulo 31, versículo 26), a Campanha da Fraternidade deste ano é um chamado para todos os educadores em todos os níveis, a se colocarem no centro de suas reflexões e ações inerentes a questão educacional brasileira. Tanto o tema da Campanha da Fraternidade da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB deste ano, e as discussões sobre a propagação do conhecimento são muito significativos, e todos os educadores que de alguma forma dedicam-se à missão de educar a população, precisam discutir tais vieses, com a seriedade e a importância que a Educação merece. Fato este inerente aos educadores das ciências sociais e jurídicas.

É a partir disso que a Campanha da Fraternidade convidou a sociedade a refletir sobre a relação entre a Fraternidade e a Educação. Esta é a terceira vez que a  CNBB trata sobre a educação em sua Campanha da Fraternidade. Porém, este ano, o foco não está restrito somente nos aspectos específicos da problemática educacional brasileira, e sim na reflexão sobre os fundamentos do ato de educar, e educar com sabedoria, fraternidade e amor, tanto ao ato de lecionar, quanto ao ato de transmitir conhecimento, e impactar a sociedade, que é a maior interessada nestas discussões.

Desde 1964, a  CNBB promove anualmente, no período da Quaresma, a Campanha da Fraternidade. Ela é organizada e convocada pela CNBB, e é dirigida a todas as pessoas de boa vontade e, de forma particular, aos cristãos católicos com o objetivo de: “despertar a solidariedade dos fiéis em relação a um problema concreto que envolve a sociedade brasileira, buscando caminhos de solução à luz do Evangelho”. Mas o tema da Campanha da Fraternidade deste ano sendo visto por outro ponto de vista, deverá trazer tais reflexões à toda sociedade, ainda mais em um contexto eleitoral tumultuado ao qual se avizinha a nação brasileira em eleições gerais, a serem realizadas em outubro.

A cada ano, a Campanha da Fraternidade da CNBB tem um tema relacionado a um problema social, e um lema retirado e escolhido dentre as Escrituras Sagradas, que indicará o caminho para a transformação da realidade em toda a federação brasileira. É a terceira vez que as reflexões da Campanha da Fraternidade abordam a temática da Educação.  A primeira vez foi em 1982 com o tema: “A verdade vos Libertará”, depois em 1998, com o tema: “A serviço da Vida e da Esperança”. Segundo a CNBB, a educação voltou a ocupar as reflexões da Campanha da Fraternidade, agora, impulsionada pelo Pacto Educativo Global.

Embora a Campanha da Fraternidade seja realizada na Quaresma, como ressalta a própria CNBB, ela não se restringirá somente ao tempo quaresmal. A cada Campanha da Fraternidade, a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil  publica uma série de materiais para apoiar os cristãos católicos, nas reflexões e na implementação da Campanha da Fraternidade. E mesmo com um país com dimensões continentais, cheio de usos, costumes, regionalismos e vicissitudes, tal discussão e reflexão não deverá pertencer somente a um segmento, seja ele religioso, político ou assemelhados, ainda mais quando se leciona a respeito da compreensão dos impactos do tripé legislação/doutrina/jurisprudência no entendimento dos casos concretos submetidos, a apreciação do Poder Judiciário, e que de alguma forma impactam a sociedade. Mas tais discussões e enfrentamentos precisam pertencer a toda coletividade, que se faz protagonista e a maior interessada nestes vieses, em relação a Educação, e as suas consequências diretas em coletividade.

*Fernanda Santos é bacharela em Direito, especialista latu sensu em Direito do Consumidor pela Universidade Federal de Goiás – UFG, especialista latu sensu em Direito Penal e Direito Processual Penal pela Rede Atame, especializanda em Direito Civil e Direito Processual Civil pela Faculdade Legale, entrevistadora do DM Jurídico, foi entrevistadora do Arena Criminal WEB, pela Rádio MID, capacitada em práticas colaborativas em 2018, controller jurídico do escritório Abrahão Viana – Advogados Associados, parecerista em matéria cível, filiada na Associação Brasileira de Juristas pela Democracia – ABJD – Núcleo Goiás, e da Associação Vida e Justiça – Associação Nacional em Apoio e Defesa dos Direitos das vítimas da COVID-19 – Núcleo Goiás, Você presidente da Rede de Ação e Reação Internacional – RARI Núcleo Goiás, foi articulista do jornal Perspectiva Lusófona em Angola (2010/2012), articulista do jornal Diário da Manhã (2009/2019), com publicações veiculadas no site Opinião Jurídica (2008/2011) e no site Rota Jurídica em Goiânia-GO (2014/2017), e pela Revista Consulex (2014/2016), e com artigos publicados pela Revista Conceito Jurídico, e Prática Forense pela Editora Zakarewicz (2019). Foi membro efetivo da Comissão da Advocacia Jovem – CAJ, da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Goiás – OAB/GO – Gestão 2013/2015.