Quando o que menos importa é a população

Nos últimos dias uma clara demonstração de como a classe política trata os cidadãos pôde ser assistida em Bela Vista de Goiás, cidade na região metropolitana de Goiânia.
    
O Prefeito da cidade, Eurípedes José do Carmo, rompido há muito com sua vice-prefeita, Nárcia Kelly estrategicamente pediu férias de 30 dias após o período de desincompatibilização para a disputa de cargos legislativos.
    
Isso pelo fato de Nárcia Kelly, vice-prefeita, sem o apoio do Prefeito, candidatar-se-ia ao cargo de Deputada Estadual.

Com o afastamento do Prefeito, ela apenas teria duas opções: ou não assumiria a Prefeitura durante o afastamento do chefe do executivo, podendo inclusive ser aberto contra ela um processo de cassação, ou assumiria abrindo mão de sua pretensão política.

Optou por assumir, resolvendo um outro imbróglio político para a família do Prefeito; seu irmão, Luiz Carlos do Carmo, nas últimas eleições, precisou dos votos de Bela Vista de Goiás para garantir sua eleição. Dividir votos com Nárcia Kelly nas próximas eleições poderia ser danoso do ponto de vista eleitoral.

Feito isso, eis que a vice-prefeita assume o cargo na terça-feira próxima passada. Exonerou, enquanto lá estivesse, “os olhos e ouvidos do rei”. Secretários e outros servidores que são tidos como os verdadeiros gestores da cidade.

A sequência foi de uma irresponsabilidade passível, inclusive, de resposta jurídica.

Vários Secretários, Diretores de entidades e servidores comissionados, mais de 60 ao todo, pediram a exoneração do cargo, deixando a administração pública municipal absolutamente ingovernável.

Mais grave ainda. A exoneração coordenada de secretários e servidores comissionados interrompeu e colocou em risco atividades públicas e serviços essenciais, como a saúde, por exemplo.

O que se ouvia era que os exonerados pela Prefeita em exercício intimidaram os demais dizendo que àqueles que não pedissem exoneração e continuassem exercendo suas funções enquanto Nárcia Kelly estivesse na Prefeitura, quando do retorno do Prefeito, seriam exonerados e ficariam sem trabalho pelos próximos dois anos.

A cidade ficou instável. A administração pública parou. A população ficou em pânico, principalmente por conta do feriado do dia do trabalhador, que geraria um natural incremento no número de atendimentos médicos. A saúde já um caos, sem médicos, seria o fim.

O Prefeito então, menos de 3 dias após seu afastamento, retorna ao cargo, demonstrando toda sua despreocupação com o que é público, com social. Arrebenta portas da Prefeitura, quebra bens públicos, desacata pessoas… Os gritos eram ouvidos de longe…
    
E a população? Importa para essa gente?
    
*Carlos Vinícius Alves Ribeiro é Mestre e Doutorando em Direito do Estado pela USP, Professor de Direito Público e Urbanístico e Promotor de Justiça