First Kiss

Desde o início dessa semana um vídeo de pouco mais de três minutos, denominado “First Kiss”, correu o mundo e já teve mais de trinta e cinco milhões de visualizações.

Filmado em apenas um dia para divulgar a coleção de inverno de uma já não mais desconhecida grife californiana – Wren -, o vídeo reuniu várias pessoas que até então não se conheciam, convidadas pela diretora Tatia Pilieva, de diferentes faixas etárias, estilos e sexo para, sob a observação das câmeras e agora do mundo, darem um primeiro beijo.

Mas que recado esse vídeo envia aos agentes do Estado, àqueles que atuam em nome da Administração Pública?

O Estado, sempre conflituoso externa e internamente, ensimesmado em suas rotinas, burocracias, métodos, restrições, limitações, controles e punições acaba por olvidar que, no fundo no fundo, sua existência se justifica pelas pessoas.

Por gente que, como aqueles dez casais que se formam sob nosso olhar, sentem as mesmas emoções adrenalizantes do primeiro contato e endorfinizantes quando o beijo potencial se transforma em beijo cinético.

Independente das marcas que cada uma daquelas pessoas trazem consigo, sejam as tatuagens, as rugas ou as dores e alegrias, independente da orientação sexual ou de quaisquer outras variáveis, todas elas e cada uma, revelam-se igualmente humanas, sendo também iguais, de formas distintas, em suas experiências de first kiss.

Ao Estado, aliás, aos que agem em seu nome, resta a lembrança de que como aqueles que procuram os balcões da Administração Pública, os hospitais públicos, os bancos de escola ou qualquer outro lugar em que o Estado se faça presente, não são estatísticas ou problemas para serem resolvidos, são pessoas, com os mesmos sentimentos dos dez casais do vídeo.

Mais que isso: os próprios servidores públicos são recordados de que também são humanos. E as mesmas agruras que hoje podem trazer um cidadão “não administrativo” à procurar o Estado, amanhã poderá atingir o servidor ou um seu.

Humanos todos, todos iguais, sejamos mais humanos.

*Carlos Vinícius Alves Ribeiro, Mestre em Direito do Estado pela USP, Doutorando em Direito do Estado pela USP, Professor de Direito Administrativo e Direito Público, Membro do Centro do Estudos de Direito Administrativo, Ambiental e Urbanístico da USP, Promotor de Justiça