Do universal ao plural: a tolerância perdida

Vive-se em uma aldeia global.  A sociedade orgulha-se da rapidez da comunicação binária, da união por ela proporcionada, das divisões geográficas que não representarem mais que referências superadas literalmente a jato.

A indignação coletiva por crueldades remotas e por intolerâncias distantes é uma unanimidade. Somos tribalistas do mundo.

Apesar disso, não se supera a pequenez provinciana que isola em guetos quem dissente de uma maioria muitas vezes mal refletida.

Bandeiras são erguidas e com elas erguem-se guerras. Pessoas são catalogadas, classificadas e isoladas ou incluídas por suas opiniões.

Passou-se do pluralismo ao universalismo sem que homens e mulheres internalizassem o verdadeiro sentido de pluralidade.

Ser plural é co-viver, conviver, tolerar, aceitar com parcimônia e harmonia posições, opiniões e pensamentos diferentes. Esse pluralismo é o alicerce da tão defendida, ainda que apenas em palavras, democracia.

A valorização e, inclusive, a promoção de ideologias, pensamentos, posições antagônicos e contramajoritários é terreno fértil para o desenvolvimento democrático.

O pluralismo constitucional brasileiro tutela exatamente essa heterogeneidade social, cultural, ideológica e étnica que segue fragilizada.

O dissenso, para além do diálogo e do debate que o circunscreve aperfeiçoa concepções e fortalece a democracia.

Rótulos – estrategicamente empregados em sociedades fascistas – servem apenas às representações monopólicas.

A heterogeneidade, o pluralismo e o verdadeiro universalismo pulveriza as tomadas de decisões socialmente relevantes. Capilariza o poder do povo pela divergência.

Sejamos de fato tribalistas do mundo. Mas que em nossa tribo não existam idéias concêntricas. Que o antagonismo seja esperado e festejado. E assim, as pedras serão removidas e flores serão plantadas, como vaticinou Cora Coralina.

*Carlos Vinícius Alves Ribeiro, Promotor de Justiça, Membro do CNMP, Mestre e Doutorando em Direito do Estado pela USP.