Elite Branca

Funciona assim: primeiro você sonha, estuda, planeja.

Depois, aluga um imóvel e contrata um financiamento bancário com a maior taxa do mundo.

Contrata funcionários, tudo seguindo a legislação trabalhista, que também vai te proporcionar a maior ônus empregatício do planeta.

Enfrenta as flutuações cambiais, o aumento do preço do combustível – ainda que no Paraguai, há duas semanas, a nossa estatal Petrobrás tenha abaixado o preço do diesel e da gasolina (em Ponta Porã a gasolina sem os 30% de álcool da nossa está sendo vendida a R$ 2,50 e o Diesel a R$ 1,90), a crise energética e o desabastecimento de água.

Resolve investir, empreender, arriscar, em  um país onde 40% do que é produzido é apropriado tributariamente pelo Estado.

Na operação do seu negócio, enfrenta regulações esquizofrênicas, muitas vezes advindas de pessoas politicamente admitidas pela administração pública como retribuição a favores ou por apadrinhamentos, sem qualquer conhecimento setorial.

Supera também os inúmeros feriados nacionais e o ano que se encerra logo no começo de dezembro e apenas inicia novamente após o carnaval, fazendo com que seu negócio fique parado com elevadíssimos custos operacionais.

Não raras vezes seus funcionários te deixarão na mão, seja por unha encravada, por queda de cabelo ou por dor de cabeça. Sofrerá enorme pressão de seus “colaboradores” para que demita-os de fachada, para que possam receber seguro desemprego.

Sentará inúmeras vezes nas cadeiras da Justiça do Trabalho – e se der muita sorte apenas nessa “justiça” -, onde seus documentos, suas provas e suas testemunhas são hipovalorizadas e, certamente, você será condenado.

Quando já cansado disso tudo, resolve protestar num domingo qualquer que deveria estar privando da convivência familiar e gozando seu merecido descanso, será taxado de elite branca. Eis o conceito dessa expressão.

*Carlos Vinícius Alves Ribeiro, Promotor de Justiça, Membro do CNMP, Mestre e Doutorando em Direito do Estado pela USP.