Partnership – desafios e retenção de talentos

*Pedro H. Schmeisser

Adentrar-se ao mundo dos negócios é estar disposto a construir relações sólidas e a se comprometer com todo o seu percurso, ora de muitas alegrias, ora de tomada de decisões precisas, caso o destino almejado seja o sucesso. Ademais, com o mercado disposto a cada vez mais competitividade e inovação, os modelos de gestão empresarial são comumente acionados na busca por um crescimento autossustentável, surge deste contexto, então, o sistema de partnership.

Partnership, em sua tradução literal ‘Parceria’, trata-se, portanto, de um modelo de negócio que oportuniza a reestruturação administrativa de uma empresa para que os colaboradores possam tornar-se sócios das organizações em que trabalham. E essa restruturação é feita por meio de um plano de negócio criado de forma personalizada.

Distinto de um programa de participação nos lucros, o modelo de negócio em questão, ainda que abarque esta possibilidade, tem como foco principal viabilizar ao colaborador uma participação societária proporcional a sua dedicação para o crescimento da empresa. Obviamente que, para poder vestir-se neste direito (essa relação se faz com o termo “vesting”, utilizado ao contrato jurídico aplicável), se faz necessário atingir níveis específicos em determinados indicadores, tais como: Key Performance Indicator ou, em português, indicadores chaves de desempenho (KIPs), e dos Objectives and Key Results (OKRs) – resultados-chave.

Os KIPs atuam como métricas capazes de aferir, em números precisos, o desempenho das estratégias utilizadas pela empresa, como planos de ação, produtos e serviços prestados entre outros elementos cruciais, para uma análise cuidadosa da funcionalidade de tais ferramentas. Assim, a escolha dos tipos de KIPs deve ser engenhosa, de modo que atenda às reais necessidades do empreendimento. Já os OKRs refletem os objetivos/resultados esperados, tornando-se imprescindíveis mecanismos assertivos para que as metas sejam de fato alcançadas. Dessa forma, adotar indicadores exatos é relevante para alcançar verdadeiramente a meritocracia.

Somada a todas as diversas complexidades do mercado, a ausência de motivação dos colaboradores pode sem dúvida ser um dos pontos mais cruciais no DESABAMENTO de uma empresa. Por isso, mais do que estratégico, este modelo se estabelece para que de fato as competências e habilidades sejam reconhecidas e legitimadas, já que se trata de uma administração horizontal que vislumbra o intraempreendedorismo e o trabalho em equipe.

Os critérios de escolha dos associados não seguem um regimento engessado a fim de permitir que cada negócio se organize e valide esses colaboradores a sua maneira. Afinal, não se trata de um “prêmio” e sim de um compromisso firmado que amplia os impactos legais e fiscais da empresa. Por isso, é importante estudar minuciosamente como fazê-lo.

Desafios para se instaurar o partnership

Com certeza esta decisão impacta diretamente a gestão de negócio de uma empresa, mas pode também sanar problemas, visto que as pessoas capazes de gerar valor para o negócio são comumente aquelas com DNA empreendedor. Dessa forma, a participação delas é uma troca crucial para o sucesso da estratégia corporativa.

O portal “Statista” disponibilizou uma pesquisa realizada com 600 empresários estadunidenses (precursores do método) visando compreender, assim, os principais impasses para a concretização deste modelo de negócio, são eles:

• ‘Contratação’ de profissionais qualificados
Mais do que um bom profissional, é preciso de colaboradores com Mindset de donos da empresa, pois esses são os profissionais comprometidos com o êxito e veem os obstáculos como oportunidades de derrubar barreiras e alcançar resultados extraordinários. Além de ser fundamental observar com cautela o perfil comportamental de cada um, já que o trabalho em equipe é o segredo deste modelo de negócio.

• A responsabilidade de ser seu “próprio chefe”
É preciso nunca perder a ideia de que cada colaborador é de fundamental importância para o sucesso do negócio. O gestor, por sua vez, deve criar um senso de propósito assertivo, além de inspirar os demais para que a excitação em busca de resultados promissores seja sempre a meta desejada.

• Fluxo de caixa e estabilidade financeira
Como qualquer negócio, uma boa gestão financeira é de suma importância para seu crescimento. A divisão de lucro é feita de forma meritocrática, conforme os serviços prestados por cada um, de maneira que anteriormente os custos da empresa devem ser calculados e a dinâmica da sociedade não pode exceder os gastos previstos.

Como funciona a gestão empresarial do partnership?

Ao propiciar à gestão empresarial esta nova modelagem, a empresa define junto aos interessados o valor do investimento na companhia. É importante pontuar que essa participação não ocorre somente de forma financeira, isto é, caso algum colaborador tenha interesse em investir mas não possua capital para isso e, se os demais associados acharem relevante sua participação, ele pode ser valorado por suas habilidades e talentos.

O investimento é feito conforme as atribuições direcionadas ao novo sócio. Já no que diz respeito à remuneração, é utilizado um planejamento pautado na meritocracia, de modo que a contraprestação financeira varia de acordo com os serviços prestados por cada sócio.

Cases de sucesso

Um dos principais ganhos com a implementação do partnership é a possibilidade de se manter na empresa profissionais talentosos, os quais, em ocasiões diversas, nem sempre permaneceriam na base de colaboradores – ainda com uma boa remuneração e benefícios de qualidade de vida. Dessa forma, a proposta ora discutida se pauta em transformar tais colaboradores propulsores de crescimento. Pensando nisso, é que empresas visionárias que já aderiram ao modelo se tornaram referências mundiais.

O banco de investimentos norte-americano Goldman Sachs, por exemplo, é um caso de sucesso na implementação do partnership. Até 1999 a instituição era gerida por um pequeno e exclusivo grupo de sócios, ocasião em que, no mesmo ano, teve seu caital aberto à Bolsa de Valores e a cada dois anos passa por um sistemático processo de indicação de sócios. O negócio é um dos modelos mais consolidados desta modalidade e comprova que uma sociedade bem planejada pode ser o segredo para ampliar perspectivas de investimentos.

A XP investimentos – maior corretora de valores mobiliários do Brasil – também avalia como grande diferencial da empresa o modelo de negócio societário Partnership. Dentre tantas vantagens, é primordial que o modelo de negócio escolhido seja considerado um fator de sucesso do negócio, vez que retém talentos ao longo dos anos e amplia a visibilidade da empresa. Além disso, os colaboradores são privilegiados ao poderem adquirir ações da empresa pelo valor patrimonial, isto é, faz-se uma análise do valor líquido da empresa descontando seus ativos, como máquinas, imóveis e afins.

Conclusão

Portanto, é evidente que o mercado não é um portal estático e, por isso, adequar-se às suas mudanças e exigências é um olhar atento e sábio. No partnership, além da probabilidade de ampliação do negócio, benefícios como a possibilidade de um crescimento exponencial – pautado em uma maior motivação do profissional, agora também proprietário – é o maior ganho de um empreendimento.

Outrossim, tal modelo se torna atrativo àqueles profissionais que se destacam por suas atuações de excelência e expertise, visto que lhes possibilitam o recrutamento como membros de extrema relevância para empresa, o que invalida uma possível concorrência de peso.

*Pedro H. Schmeisser é founder – Schmeisser e Gomes Advogados