Honrar os mortos é valorizar a vida

*Valério Luiz de Oliveira Filho

No ultimo domingo (13/02), completamos 1 ano sem meu avô, Manoel de Oliveira. E daqui a menos de 1 mês, no dia 14 de março, começa o tão aguardado Júri Popular dos acusados de assassinar o jornalista Valério Luiz de Oliveira, meu pai. E o que o veterano jornalista e ex-presidente da Associação dos Cronistas Esportivos de Goiás, Romes Xavier, faz? Transmitindo um jogo pela Rádio Bandeirantes, veículo no qual meu pai trabalhava quando foi executado, e de dentro de uma cabine chamada “Cabine Valério Luiz”, no estádio Aníbal Toledo (Aparecida de Goiânia), dedica a narração de um gol a Maurício Sampaio, justamente o réu a quem é imputado ser o mandante do crime.

Não é a primeira vez que a equipe faz algo do tipo. Há algumas semanas, um repórter da rádio travou uma longa entrevista com Sampaio, na qual disse que o cartola tinha “o seu respeito”. Não é do meu feitio cobrar solidariedade das pessoas, mas acredito que, dadas as circunstâncias, é possível, sim, mais sensibilidade, profissionalismo e respeito com a família de quem já morreu.

Nunca critiquei jornalistas e veículos de comunicação que cobrem, dentro das suas funções normais, o Atlético-GO. Nunca critiquei sequer os advogados de Sampaio, quando do exercício das defesas para as quais foram contratados. Mas sempre confrontei abertamente aqueles que, perante o homem acusado pelo Ministério Público de destruir nossa família, usaram suas vozes e canetas para franquear-lhe apoio moral. Entidades de proteção à liberdade de expressão e a imprensa nacional já me procuram para a cobertura do julgamento, e ninguém poderá se comportar como se nada estivesse acontecendo.

Nós, humanos, somos os únicos seres sobre a Terra que enterramos, lembramos e honramos nossos mortos. Como todos estamos destinados a passar, a lembrança dos que ficam é a única forma de garantir que o que fazemos nesta vida tem algum sentido e permanência. Não é exagero dizer, portanto, que, quando deixamos de honrar nossos mortos, decaímos da nossa humanidade para uma condição mais próxima à do animal, preocupado unicamente com o pão e a carne. O “Caso Valério Luiz” será estudado, entrará para a história da imprensa e do judiciário goianos, e é chegada a hora de definir o que essa história dirá de cada um. Para o bem ou para o mal, todos serão lembrados.

*Valério Luiz de Oliveira Filho é graduado em Direito pela UFG, especialista em Criminologia e mestrando em Filosofia pela mesma Universidade. Advogado, é assistente de acusação do Ministério Público no caso e filho do jornalista Valério Luiz.