Conquista do voto feminino. Temos o que comemorar?

*Sirley da Silva Oliveira

Ao longo do tempo temos nos dedicado a buscar formas que as mulheres possam entender a necessidade de se envolver no processo político.

Hoje, comemoramos 90 anos da conquista do voto feminino e já entendemos que só votar não basta, é tempo e hora de nos envolver e seguir avançando com conquistas tomando assento nos espaços políticos, de poder e de decisão.

E como fazer isto acontecer diante de preconceitos, obstáculos, excesso de funções?

Precisamos compreender que nada nos será dado. Se não mostrarmos nossa cara, nossa disponibilidade, vontade de integrar e comprometimento, ingressando em espaços a convite ou não, e assumindo a relevância da representatividade feminina, não alcançaremos nosso lugar ao sol.

As mulheres são a maioria do eleitorado brasileiro, conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral – TSE – que informa que em 2020 nós já éramos 52,50% das votantes.

Precisamos quebrar o paradigma, estimular e afastar o estigma de que nós mulheres não queremos participar de política, uma crença resultante do machismo estrutural, para esconder a verdadeira razão, o medo de perder o poder.

Me lembro de uma das vezes que ouvi a Senadora Lúcia Vânia falando sobre os obstáculos que teve que enfrentar na Câmara dos Deputados Federais quando era Deputada eleita por Goiás, enfatizou o quanto foi oprimida, deixada para trás, o quanto seus colegas parlamentares a excluía de decisões importantes, sem contar o quanto sofreu por não ter naquela casa espaços destinados a mulheres, tais como toaletes.  A luta foi grande, mas ela não se calou, não se curvou e decidiu que não seria só mais uma, foi e ocupou os espaços, nos dando visibilidade. Temos muitas outras, mas este é um exemplo que me motiva. Mas o que quero aqui registrar é a importância de nos mobilizar, nos envolvermos para ocuparmos nossos espaços, para não sermos vistas e usadas como “boi de piranha”, na corrida eleitoral. Não podemos mais aceitar a invisibilidade política.

Este ano é ano eleitoral, e a minha expectativa é ter mais mulheres envolvidas no processo político, disposta a ocupar os espaços, não podemos nos omitir sob pena de frear os nossos avanços. É preciso romper com os discursos dominantes e isso começará a acontecer quando tomarmos consciência de nossa capacidade.

O momento é de ampliar, avançar do discurso de que mulher só vota em mulher para estimular que as melhores mulheres tenham vontade e apoio para serem eleitas pela qualificação e capacidade de gerir e participar da máquina pública em todas as suas faces.

E como bem diz Bertha Lutz: “Recusar à mulher a igualdade de direitos em virtude do sexo é denegar justiça a metade da população.”

Urge repensar nossas escolhas. O que queremos de quem nos representa. Enfim, precisamos nos conscientizar que a participação feminina na política precisa ser real e efetiva.

*Sirley da Silva Oliveira é advogada, especialista em Direito Constitucional, Eleitoral, mediação e arbitragem, pós graduanda em Advocacia Feminista e Direito da Mulher.