Agronegócio mais sustentável em pauta

*Artur Siqueira

Não há dúvidas que a pauta ambiental permaneceu no foco do governo federal e do mercado nos últimos meses. O aumento do desmatamento e a suposta ingerência ambiental da Amazônia nos mostraram claramente que uma “nova” tendência será, enfim, consolidada: um modelo de agronegócio cada vez mais sustentável.

Desde o final do ano passado, as denúncias sobre o aumento do número de focos de queimadas e o avanço do desmatamento na Amazônia, aliados ao discurso – muitas vezes – temerário do presidente e de seu ministro de Meio Ambiente, acenderam um sinal amarelo para fundos de investimento e parceiros comerciais.

Tão logo os dados foram divulgados, a resposta do mercado internacional foi imediata: aumento de exigências na comercialização de produtos, bloqueios silenciosos e, por fim, fuga de capital estrangeiro. A reação do mercado revela que – mais do que nunca – os aspectos socioambientais deverão funcionar como verdadeira baliza para os investimentos.

Será cada vez mais comum o uso de indicadores de sustentabilidade para garantir o respeito ao meio ambiente durante todas as etapas de produção. Setores estratégicos como o complexo da soja e o mercado da carne bovina deverão estar preparados para um maior rigor nas exigências do mercado consumidor e de seus parceiros comerciais.

Protocolos de rastreabilidade, monitoramento de áreas irregularmente desmatadas, além de processos de certificação, são exemplos de ferramentas que serão gradativamente absorvidas ao processo de produção. A consolidação dessa nova perspectiva nos mostra que a pauta ambiental deixou de ser uma bandeira e tornou-se um fator limitante do processo produtivo.

Ademais, além das medidas individualizadas de cada cadeia, será exigido uma atuação mais eficiente do governo na execução de políticas públicas, principalmente, com relação ao avanço do desmatamento. Recentemente, o vice-presidente, “interventor” das ações de proteção da Amazônia, admitiu que as medidas de combate ao desmatamento foram tardias e o próprio ministro Ricardo Salles também reconheceu a necessidade imediata de diálogo com o mercado internacional. Conquanto o governo tenha sinalizado mudanças, a nossa reação ainda é lenta e continuamos sem uma proposta concreta de melhoria.

Como resposta a essa apatia, gestores de fundos de investimentos e executivos de empresas já consolidadas, como a Mafrig Global Foods, cobraram ações mais enérgicas do governo federal, além de anunciar compromissos de sustentabilidade ambiental em suas cadeias para os próximos anos.

Esse modelo de agronegócio sustentável demandará, sem dúvida, uma maior proatividade dos players dessa cadeia. O Brasil só retomará seu protagonismo na agenda ambiental e, desse modo, atrairá maiores investimentos, caso tenhamos uma ação ordenada entre poder público, produtores e sociedade.

*Artur Siqueira é advogado agroambiental e engenheiro agrônomo e sócio do GMPR Advogados.