A nova tarifa do transporte coletivo de Goiânia, de R$ 2,80, passa a vigorar a partir deste sábado (3). Segundo pesquisa realizada pelo advogado especialista em Direito Urbanístico Márcio Moraes, o valor é o quinto maior do País. Além de caro, considera o serviço ruim.
Sócio do escritório Coutinho Moraes, Márcio Moraes é coordenador da Subcomissão de Ordenação das Cidades da OAB-GO e pesquisador do Observatório das Metrópolis. Ele explica que o Brasil não tem uma política de mobilidade consistente e a falta de um planejamento do transporte tendo em vista sua eficiência eleva o custo do serviço em Goiânia.
“A política de mobilidade é muito nova no Brasil, a legislação é de 2012. As tímidas ações realizadas até o momento consistem somente em investimentos em infraestrutura, sem dedicar a devida atenção ao custo do transporte público e aos preços das tarifas”, afirma.
Márcio Moraes cita estudo de 2013 do banco UBS que revela que com uma passagem de ônibus em Goiânia é possível comprar 3,4 na Cidade do México e 4,5 em Buenos Aires. “São cidades muito maiores que nossa capital, em países de realidade econômica igual ou inferior ao Brasil, mas que tratam o transporte coletivo com a devida seriedade”, afirma.
Planejamento
O planejamento urbano de Goiânia também pressiona a tarifa do transporte. De todas as quatro cidades que operam tarifas superiores a daqui apenas Florianópolis é menos populosa.
“Até a década de 1990 Goiânia não tinha grande preocupação com o adensamento, por isso alguns bairros apresentam muito vazios urbanos. Crescendo espalhada, as distâncias ficam maiores e isso onera o transporte. Cidades que têm o melhor transporte público do mundo, como Nova York e Cingapura, são bastante adensadas e priorizam o transporte de massa”, explica Márcio Moraes.
Para o advogado, além de uma forte desoneração de impostos municipais, estaduais e federais para barrar o aumento da tarifa é necessário mexer no trânsito de Goiânia. “Bogotá é modelo mundial de mobilidade e o ex-prefeito Enrique Peñalosa é um dos responsáveis pelo feito. Ele costuma dizer que uma boa cidade não é aquela que, como Goiânia, até os pobres andam de carro, mas aquela em que até os ricos usam transporte público. Aqui, as obras geralmente visam a abrir espaço para os carros, mas deveriam aumentar a circulação primeiro para pedestres e ciclistas e depois para ônibus”, avalia Márcio Moraes.
Além de eficiência, Márcio Moraes defende uma política específica para barrar o aumento de tarifas. A Política Nacional de Mobilidade Urbana (Lei 12.587/12) exige a modicidade da tarifa, portanto se a passagem está cara a lei está sendo descumprida. “No auge das manifestações de junho de 2013, a FGV analisou quanto o trabalhador tem de trabalhar para pagar uma passagem de ônibus e a conclusão é que o Brasil tem os piores números. Em Goiânia, todos os dias o usuário do transporte trabalha 25 minutos só para bancar sua ida e vinda.”
Estudo Coutinho Moraes
Tarifas de ônibus nas capitais brasileiras (2014)
1º) São Paulo 3,00
Rio de Janeiro – 3,00
3º) Porto Alegre – 2,95
4º) Florianópolis – 2,90
5º) Goiânia – 2,80
Salvador – 2,80
Cuiabá – 2,80
8º) Manaus – 2,75
9º) Campo Grande – 2,70
Curitiba – 2,70
11º) Belo Horizonte – 2,65
12º) Boa Vista – 2,60
Porto Velho – 2,60
14º) Maceió – 2,50
Palmas – 2,50
16º) Rio Branco – 2,40
Vitória – 2,40
18º) Aracaju – 2,35
19º) Natal – 2,20
João Pessoa – 2,20
Fortaleza – 2,20
Belém – 2,20
23º) Macapá – 2,10
São Luís – 2,10
Teresina – 2,10
26º) Brasília – de 1,50 a 3,00*
27º) Recife – de 1,40 a 3,35*
Estudo da FGV
Renda média e minutos trabalhados (2013)
Buenos Aires (1,44)
Pequim (3,64)
Otawa (5,84)
Paris (6,25)
Nova York (6,33)
Madri (6,52)
Tóqui (9,06)
Santiago (9,11)
Lisboa (9,99)
Londres (11,06)
Goiânia (12,50)*
Rio de Janeiro (13,89)*
São Paulo (13,89)*
Estudo do banco UBS
Tarifas em dólares (2013)
Mumbai 0,13
Pequim 0,26
Buenos Aires 0,28
Cidade do México 0,37
Bogotá 0,84
Santiago 1,17
Goiânia 1,26*
São Paulo 1,35*
Rio de Janeiro 1,35*
Lisboa 1,83
Miami 1,83
Roma 1,94
Madri 1,94
Paris 2,16
Nova York 2,42
Barcelona 2,59
Berlim 2,98
Londres 3,70
Copenhagen 4,88
*As pesquisas são de 2013, mas esses dados foram atualizados.