Ironia e acusações dão o tom no último debate entre os presidenciáveis da OAB

O debate foi o último encontro entre Pedro Paulo Medeiros, Rafael Lara, Rodolfo Mota e Valentina Jungmann antes da eleição
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O Rota Jurídica realizou nesta tarde debate entre os candidatos à presidência da Ordem dos Advogados – Seção Goiás (OAB Goiás), em parceria com o Mais Goiás e apoio da Fecomércio. O último encontro entre Pedro Paulo Medeiros, Rafael Lara, Rodolfo Mota e Valentina Jungmann antes da eleição, que ocorre nesta sexta-feira, 19, foi marcado por acusações e muita ironia entre os candidatos.

Realizado no formato candidato pergunta para candidato, o debate rendeu momentos de desconforto para os concorrentes e girou em torno, principalmente, de discussões sobre paridade em cargos de gestão na OAB Goiás, preservação das prerrogativas da categoria, redução da anuidade, propostas para a advocacia jovem e para advogadas. Também entrou na pauta dos candidatos a condução da Escola Superior de Advocacia (ESA) e a Caixa de Assistência dos Advogados de Goiás (Casag).

O clima esquentou principalmente nos momentos em que Pedro Paulo Medeiros e Rafael Lara se enfrentaram seguindo o protocolo pergunta, resposta, réplica e tréplica. Mas também não faltaram farpas dos candidatos Valéria Jungmann e Rodolfo Mota contra os dois. Rafael Lara, Rodolfo Mota e Valéria Jungmann participam da atual gestão da OAB Goiás, presidida pelo advogado Lúcio Flávio. Pedro Paulo se apresenta como o único candidato da oposição, papel questionado por Rodolfo e Valentina, que querem mostrar independência da atual gestão. A ordem de apresentação dos candidatos e definição de quem perguntaria para quem foram realizadas por sorteio, no primeiro bloco do debate, pelo mediador Rubens Salomão. 

Anuidade zero 

No segundo bloco, primeiro em que candidato perguntou para candidato, Valentina Jungmann aproveitou sua vez para questionar Pedro Paulo sobre sua proposta de anuidade zero e acusá-lo de propor a adesão a um programa já existente no Conselho Federal. A pergunta rendeu uma tréplica ácida do candidato Pedro Paulo a Valentina: “Não confunda as coisas, a senhora que deveria saber mais do que está falando”, disse ao explicar sua proposta e lembrar que a Ordem não pode renunciar a receitas.

E ao final da rodada de perguntas e respostas, também vimos o primeiro direito de resposta ser concedido a Rafael Lara, por conta de uma fala da candidata Valentina, sobre um escândalo ocorrido na primeira gestão de Lara à frente da ESA. “Não existe escândalo na ESA, que é um exemplo para o Brasil inteiro, a única no país com um programa de complaince”, afirmou.  

Rodolfo Mota não poupou críticas a Pedro Paulo e Rafael Lara, representantes de duas forças rivais dentro da OAB Goiás, acusando-os de omissos em relação às demandas da advocacia. “Diz que muito foi feito, mas nada foi feito”, afirmou em réplica a resposta de Lara sobre demandas da advocacia no interior. 

Paridade, Casag e defesa das prerrogativas

No terceiro bloco do debate, em pergunta a Rafael Lara, Pedro Paulo Medeiros levantou o tema paridade na OAB e o acusou de defender uma posição elitista. “É a mesma panelinha”, disse referindo-se ao grupo de Lara e acrescentou que a atual gestão apenas cumpriu a cota de participação de mulheres em cargos de gestão e diretoria imposta pelo Conselho Federal.

Ao falar que em sua chapa 50% dos cargos de gestão são para mulheres e que 75% dos seus componentes nunca ocuparam cargos na OAB Goiás, Pedro Paulo foi rebatido por Lara que o acusou de esconder o seu passado de mais de 30 anos na OAB. “Falamos da nossa gestão com orgulho, da atual e da que vamos fazer. Nossa chapa não trata de elitismo, tem chapeiro, tem vendedor de picolé. Não tem herança, tem trabalho”, respondeu.

Antes de fechar o bloco com sua pergunta para Rodolfo Mota, Valentina Jungmann se exaltou ao pedir um direito de resposta antes de realizar sua pergunta, quebrando o protocolo acordado de que os pedidos seriam feitos pela equipe a pessoa designada para receber as solicitações.

Na sequência, a gestão da Casag entrou na pauta. Valentina disse que, se eleita, vai abrir a caixa preta da Casag, que teria ignorado as necessidades dos associados e gastado mais com publicidade do que com assistência aos advogados durante a pandemia. Em tréplica, Rodolfo Mota a acusou de estar sendo leviana e de fazer um discurso político-eleitoreiro.

Rafael Lara voltou ao tema de redução da anuidade, questionando Pedro Paulo sobre quais benefícios a advocacia teria que perder para isso, afirmando ser uma proposta oportunista, e lembrou que a atual gestão assumiu a Ordem com uma dívida superior a R$ 23 milhões. “O senhor tem prometido gratuidade disso, daquilo. Gostaria que apresentasse um estudo de impacto financeiro para que a gente não volte àquele passado de OAB quebrada”, questionou Lara. Em sua resposta, Pedro Paulo criticou o Portal da Transparência da Ordem, que não apresenta dados necessários e voltou ao assunto elitismo ao citar gastos de R$ 15 mil em jantar. “Quando ouço as propostas de vocês, acho que estou na Disneylândia”, ironizou Pedro Paulo.

Logo em seguida, Valentina Jungmann teve o seu direito de resposta, o segundo do debate. Ela rebateu a citação de seu nome e fala atribuída a ela, por Pedro Paulo de que a chapa de Rafael Lara era machista.

No último bloco, a preservação e garantia das prerrogativas da advocacia voltou ao debate, quando Pedro Paulo questionou Valentina sobre suas propostas para o cuidado com a advocacia jovem e com as prerrogativas e a importância da regionalização da Procuradoria de prerrogativas. Na réplica à resposta, Pedro Paulo se disse contra a reeleição e foi rebatido pela candidata Valentina. “Interessante o senhor falar que é contra a reeleição sendo que o grupo que o apoia esteve 27 anos no poder e todos foram reeleitos”, contrapôs.

Conflitos, DNA e velha política

Outro momento de tensão foi quando a candidata Valentina Jungmann questionou Rafael Lara sobre conflitos, em uma possível gestão dele, com a magistratura, e citou sua esposa. “O que nos preocupa é justamente essa ligação entre o senhor e a magistratura. Entendemos que a OAB tem que ser independente, não pode ter vínculo sequer empresariais com a magistratura. Não podemos coadunar que haja sociedades familiares”, disse.  Rafael rebateu as críticas afirmando que sua relação com juízes é de amizade. “Hoje, na advocacia trabalhista, eu já sou essa ligação. Temos uma relação com o poder judiciário trabalhista de dia a dia, de resolver problemas”, afirmou.

De volta ao tema prerrogativas, em resposta a Lara, Rodolfo falou da escassez de procuradores e que seu projeto é cuidar da interiorização, da regionalização e da elaboração de um projeto de lei e não de fazer show pirotécnico, em alusão a ato de desagravo da atual gestão após violação das prerrogativas da advocacia. Rodolfo também acusou a gestão atual de ter vinculação política e de falta de estatura moral, o que impedia o avanço de várias propostas. “Chega de se servir da ordem e não servir a ela”, disparou. 

Encerrando a fase de pergunta de candidato para candidato, Rodolfo Mota acusou Pedro Paulo de insistir na velha prática política, destacando seus encontros com políticos. E na sequência os dois acusaram um ao outro de falta de personalidade por conta de suas respectivas relações com as gestões anterior e a atual.  “Assuma seu DNA, todos os caciques da OAB Forte”, impeliu Rodolfo. Em resposta, Pedro Paulo citou a participação de Rodolfo na atual gestão, à frente da Casag e disparou: “Se tem alguém com algum problema de personalidade, não sou eu”.