O procurador-geral de Justiça de Goiás, Benedito Torres Neto, e promotores integrantes da força-tarefa criada pelo Ministério Público de Goiás para investigar acusações contra o médium João Teixeira de Faria, o João de Deus, divulgaram, nesta sexta-feira (21/12), um novo balanço sobre a apuração dos fatos, até o momento. Além disso, informaram que novo pedido de prisão foi deferido pelo Judiciário em desfavor do investigado, desta vez por posse ilegal de armas de fogo. Também foi interditada parte da farmácia localizada na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia.
Conforme ressaltou Torres Neto, nessas duas semanas, o Ministério Público brasileiro tem realizado um trabalho de peso, ouvindo testemunhas, formando núcleos específicos para tratar da questão e dar uma resposta à sociedade, o que tem sido feito também de forma integrada com a Polícia Civil.
Segundo apontou o membro da força-tarefa Luciano Meireles, coordenador do Centro de Apoio Operacional Criminal do MP-GO, foram feitos 596 contatos pelo e-mail criado pela instituição especificamente para essa investigação. Destes foram identificadas 255 possíveis vítimas do médium, tendo sido ouvidas formalmente 75 em Goiás e em outros estados até o momento.
Entre as vítimas identificadas, cujas mensagens foram encaminhadas exclusivamente para o canal de comunicação do MP goiano, estão as originadas de Brasília (39), de Goiás (21), do Rio Grande do Sul (20), Espírito Santos (11), Minas Gerais (15), Rio de Janeiro (7), Paraná (6), Santa Catarina (4), Mato Grosso (3), Mato Grosso do Sul (1), Maranhão (1), Pernambuco (1), Piauí (1) e Tocantins (1). As mensagens encaminhadas ao MP também vieram do exterior, como listaram os promotores, sendo elas dos Estados Unidos (4), da Austrália (3), da Alemanha (1), da Bélgica (1), da Bolívia (1) e da Itália (1).
Destas 255 pessoas identificadas, 23 tinham entre 9 e 14 anos na ocasião dos fatos; 28 entre 15 a 18 anos, e 70, com idade de 19 a 67 anos. Conforme adiantaram os promotores, os próximos passos incluem, além da continuação das oitivas das vítimas, o depoimento do próprio investigado e a apresentação de denúncia criminal de, pelo menos, três casos, cujos crimes são o de estupro, violência sexual mediante fraude e estupro de vulnerável.
Vítimas
Sobre os relatos das vítimas, os promotores destacaram que o médium se valia da fé dos frequentadores; do respeito que elas tinham por ele; e da fragilidade das pessoas que, muitas, vezes estavam com graves doenças. Neste sentido, a coordenadora do Centro de Apoio Operacional, Patrícia Otoni, integrante da força-tarefa, destacou a preocupação que o MP tem tido para com as depoentes. “Antes mesmo dos depoimentos, as vítimas são atendidas por uma psicóloga da instituição, sendo a oitiva, que é feita por promotoras, acompanhada por essa profissional. Após essa etapa, as vítimas também são direcionadas à rede de atendimento psicossocial de seus municípios”, informou a coordenadora.
Busca e apreensão
Nesta sexta-feira (21/12), foi realizada nova busca na casa de atendimento do médium, em Abadiânia, para complementação do levantamento estrutural do empreendimento, em operação que envolveu a Polícia Civil e a Superintendência de Vigilância Sanitária. Segundo informou a promotora de Justiça Gabriella de Queiroz, que esteve no local com a coordenadora do CAODH, Patrícia Otoni, foram apreendidos novos materiais, cuja especificação será detalhada pela Polícia Civil, quando do término dos trabalhos. A Vigilância Sanitária também interditou parcialmente a farmácia que funciona no local, na parte que se refere à produção de medicamentos, pela manipulação contrária às normas sanitárias e más condições de acondicionamento de instrumento cirúrgico, o que gerou à instituição uma autuação administrativa, cujo teor será analisado pelos promotores para as devidas responsabilizações, assim que encaminhado ao MP.
Força-tarefa
A força-tarefa do MP foi instituída pelo procurador-geral de Justiça no dia 10 de dezembro, e foi ampliada, tendo agora como integrantes os coordenadores dos Centros de Apoio Operacional Criminal e de Direitos Humanos, Luciano Meireles e Patrícia Otoni; o coordenador do Gaeco, Thiago Galindo; e os promotores de Justiça Cristiane Marques, Gabriella de Queiroz (membro do Gaeco), Paulo Penna Prado (subcoordenador do CAO Criminal) e Augusto César Borges.