Vítimas ou cúmplices?

advogado witer desiqueiraVivemos em uma época que “dar um jeitinho” parece ser a solução para todos os nossos problemas. E o brasileiro é especialista nisso.

De acordo com uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais e o Instituto Vox Populi, um em cada quatro brasileiros afirma que dar dinheiro a um guarda para evitar uma multa não chega a ser necessariamente um ato corrupto. Estes números correspondem à aproximadamente 23% da população, e claramente reflete o quanto atitudes ilícitas, como essa, de tão enraizados em parte da sociedade brasileira, acabam sendo encaradas como parte do cotidiano.

Todos os dias somos bombardeados por noticiários sobre corrupção, um mal que assola o nosso país. É um escândalo após o outro, prato cheio para os comentaristas de plantão, que vociferem palavras de ordem na internet em que exigem, até, a pena de morte para os corruptores. Mas esses mesmos gritos raivosos aceitam, pacificamente, os pequenos crimes que eles próprios e muitos conhecidos praticam no dia a dia, sem nem mesmo perceber que o “jeitinho” do cotidiano também é uma forma de corrupção.  E esse “jeitinho” brasileiro se estende para além do âmbito político.

Na última semana, ao assistir uma reportagem na TV, a notícia dava conta que foi desarticulada no Rio de Janeiro uma quadrilha com ramificações internacionais, que montava candidatos ao visto Americano.

Para isso a quadrilha falsificava escrituras para parecer que o candidato era dono de imóveis. Extratos bancários com saldo gordo, diplomas universitários, vistos de entrada em outros países e até declaração de Imposto de Renda, com intuito de comprovar vínculos com Brasil, e desta forma, demonstrar a não intenção de permanecer nos Estados Unidos de forma ilegal. Chegavam até mesmo a ministrar aulas, uma espécie de cursinho preparatório aos seus clientes sobre como enganar os agentes de imigração.

Ainda, segundo a reportagem, os candidatos ao visto chegaram a pagar cerca de R$ 27 mil reais pelo “serviço”, o qual não foi realizado. Seria um insulto à inteligência do meu ilustre leitor, colocar aqui como vítimas essas pessoas que se utilizam ou se utilizaram de tais conveniências. Por fim, no que tange a esse tema, eu lhes trago a seguinte interrogação. Não seria mais fácil e até mesmo mais barato agir de acordo com as normas legais?  “O barato saiu caro”, mas o bom e velho “jeitinho brasileiro” entranhado no nosso inconsciente nos diz que o que é ilícito é mais rápido e fácil, por vezes, optando-se por desembolsar um valor maior do que seria caso se utilizasse dos caminhos estabelecidos em lei.

*Witer DeSiqueira, advogado do Law Offices of  Witer DeSiqueirawww.witeradvogados.com