“Pecunia non olet” – O dinheiro não tem cheiro

advogada amanda alvesVivemos engasgados com o grito da liberdade. Bradamos o amor à pátria e vomitamos em refrões calorosos o repúdio a todo tipo de corrupção. Cuspimos nossa idoneidade moral nos holofotes das câmeras de nossos celulares super desenvolvidos.

Repudiamos a menina que chama o jogador de macaco no calor de um jogo de futebol, mas não cumprimentamos o porteiro e não pagamos os direitos trabalhistas da babá.

Adoramos odiar o capitalismo com nossas camisetas do Che, compradas nos shoppings mais elitizados da capital.

Repudiamos as cotas porque não é justo pagar uma mensalidade tão cara e perder a vaga para um crioulo que anda de ônibus.

Repudiamos o bandido preso desde que ele não seja nosso cliente ou parente. Aí a história muda.

Aplaudimos a PM quando ela espanca um ladrão de pão, mas repelimos sua conduta se ela chama de vagabundo o filho do empresário rico só porque o “pobre rico” rapaz atropelou e matou um irresponsável ciclista que foi morto ao voltar para sua casa e “andava devagar demais…”

Temos na ponta da língua um discurso de ética e moral, mas xingamos o necessitado que precisa do bolsa família, pois esquecemos que quem tem fome tem pressa.

E nesse discurso escolhemos sempre alguém para crucificar. Um dia é a Presidente do País, outro dia é Governador, e em outro a OAB/GO, porque claro que das nossas cadeiras de telespectadores nos achamos muito mais qualificados para “escalar qualquer time”.
Mas agora, te convido a ousar.

Tire a máscara da honestidade e a burca da moralidade e escandalize-se! Saia do casulo, pois na zona de conforto não cresce asas.

Agora, por apenas alguns minutos, deixe seus dogmas de lado, dispa-se! A nudez da alma e da mente é o ponto de partida.

Como dizia a “herege” música de The Rolling Stones – Sympathy For The Devil:

“Assim como todo policial é um criminoso
E todos os pecadores santos
Como cabeças são rabos
Apenas me chame de Lúcifer
Porque eu estou precisando de alguma restrição

Então, se você me encontrar
Tenha alguma cortesia
Alguma simpatia, e algum bom gosto
Use toda sua política bem aprendida
Ou eu jogarei sua alma no lixo, oh yeah”

Agora vamos tirar as máscaras. Somos uma mistura de pecadores e  santos.

Como diz o título deste ultrajante artigo (risos), meu caro leitor, assuma, O DINHEIRO NÃO TEM CHEIRO!

Quantas vezes não vemos pessoas se calar diante de uma injustiça por medo de desagradar “alguém importante”.  E uma coisa eu sei, a covardia fede. Já senti esse fétido odor uma vez…

Quantas vezes não vemos jovens garotas se prostituindo, colocando preço no seu corpo e na sua companhia e ainda assim são tratadas como grandes damas da sociedade? Claro, elas não são como “as outras” que cobram por hora. O preço delas é o casamento.

Quantas vezes não encontramos bicheiros, políticos e suas damas nos salões de beleza sendo “endeusadas” por serem a segunda titular dos cartões ilimitados de seus poderosos companheiros?
Desde “Alexandre” o filho de Felipe II, que se tornou o jovem imperador da Macedônia e conquistou territórios e mudou o rumo da história, e após ser um dos maiores assassinos da história, demos a ele o subtítulo de “O Grande”.

Assim, aplaudimos políticos corruptos e mercenários para unir o coro da tão aplaudida “democracia”, pois agora temos um culpado!!! Como não percebemos isso antes? O mal do Brasil se chama PT não é mesmo? Não. Não é.

Ser patriota não é ser PSDB ou PT, ser patriota é defender nosso País, pois ele está muito além de qualquer partido. O complexo de manada emburrece.

As mídias sociais estão cheias de discursos ao CERTO e repúdio ao ERRADO. Pergunto-te; se você estivesse lá faria diferente?

Da mesma forma vemos todos os dias estampada nas capas dos jornais o fuzilamento público da nova gestão da nossa Casa, a OAB/GO. Se tiver algo errado, temos o direito de saber? Claro que sim. Mas como temos exigido este direito? Com escárnio? Com uma nova “inquisição” do século XXI?  O momento requer uma coisa: Calma!

Por fim, retomo ao título deste texto.

Por que abordei tantos assuntos?  Porque por trás de tanta reivindicação de justiça, pode se esconder algo: O PODER.

A luta não é por justiça. A luta é por poder.

E nesse país só tem poder quem tem dinheiro, por isso vemos tantos desvios de verbas, tanta corrupção…

Sabe qual o maior preconceito do mundo? A POBREzA.

Se você é puta, mas é rica, você é respeitada, vai a programas de TV e escreve um livro.
Se você é bandido, mas é rico, a imprensa não mexe muito com você, agentes não bate na tua cara e a cadeia te respeita, porque o sistema é outro, quem manda na cadeia é o Comando e não a polícia. Não sabia? Então aprende.

Se você é parente de ladrão que desvia dinheiro da merenda de criancinhas, mas anda de Mercedes e motorista, as portas não se fecham para você.

Se você é negro mas é rico, pode ter certeza que nunca será chamado de macaco, ao contrário, um camarote estará reservado para você.

Famílias de grandes empresários, políticos, e até advogados que enriqueceram com a desgraça alheia, apontam seus dedos asquerosos e arrotam a honestidade que nunca tiveram. Mas se são ricos, desfilam com suas Land Rovers, limborguine e Ferraris e serão muito bem recebidos, pois a gorjeta vale mais que o repudio.

Então pergunto, quando alguns destes ilustres personagens chegam aos mais requintados lugares, alguém lhes perguntam a origem do seu dinheiro? Não se acanhe, eu mesma respondo; NÃO.  Não perguntam.

Nossa própria legislação é hipócrita. Pois embora o tributo só decorra de atividade lícita, não quer dizer que atividade tida por ilícita não possa ser tributada. Por exemplo, se o traficante que pratica atividade ilícita e com ela aufira renda, portanto está obrigado por lei a declarar a renda e pagar Imposto de Renda.

Ocorre que auferir renda não é ilícito e sim a forma como ela é auferida. Portanto, quem auferir renda deverá pagar imposto de renda, tornando-se irrelevante para o surgimento da obrigação tributária a forma como tal renda foi auferida.

Daí veio o princípio “Pecunia non olet” – O dinheiro não tem cheiro.

Então, agora, por conta própria me atrevo a mudar a estrofe do clássico dos Rolling Stones citado acima:

“Assim como todo policial é um criminoso
E todos os pecadores santos
Como cabeças são rabos
Apenas me chame de HIPOCRISIA porque eu estou
precisando de alguma restrição”

Este artigo desta vez não é de mel, é de fel, pois “eu não temeria um grupo de leões conduzido por uma ovelha, mas eu sempre temeria um rebanho de ovelhas conduzido por um leão.”

Afinal, você é leão ou ovelha?

*Amanda Alves é advogado criminalista. Membro da Comissão de Direitos Humanos e da Comissão de Segurança Pública e Política Criminal da OAB/GO.