O assustador caso do nenê que fugiu, no Setor Sul, à procura de ajuda, e a difícil tarefa de se conseguir denunciar o caso

Na segunda-feira (4/8), logo após o almoço em tarde de sol escaldante, os usuários de uma academia no Setor Sul tiveram um motivo extra para suar frio.  Pelas amplas janelas da academia, viram uma criança de fraldas andando assustada em direção aos veículos e motocicletas que passavam em alta velocidade. Por um triz, e graças a rápida intervenção de um cliente e uma funcionária da limpeza, foi possível impedir uma tragédia.

A menina, uma doce garotinha de olhos tristes, visivelmente apavorada, toda suja e com evidentes sinais de ausência de cuidados básicos, vinha de uma creche improvisada, um misto de albergue e restaurante clandestino, que funciona à rua 125,   em pleno coração do bairro nobre da capital. Constatou-se depois que não era a primeira vez que o nenê saiu da residência em ar de desespero.

Ao entregar a criança nas mãos da mulher que supostamente devia cuidar dela, os envolvidos perceberam que ela não deu a mínima e ainda culpou o bebe por ter saído da casa. Com ar de quem estava ausente do mundo – sabe-se lá porque razões – a tal cuidadora mostrou total indiferença à gravidade do ocorrido e, nervosa, mostrou-se agressiva com a ingênua menina cuja olhar suplicava ajuda.

Foi demais. Os participantes exigiram o nome da mãe para reportar a irresponsabilidade. Ela se recusou e, aos berros, os enxotou para fora. Certos de que algo estava errado, e que uma criança corria perigo, tentou-se informar o ocorrido pelo fone 0800 621 177. Uma tarefa impossível visto que o atendente exigia – pasmem – o nome completo da criança, da cuidadora, e do informante com CPF e RG. Tempo perdido.

No 190,  a polícia informou que o caso não era de sua competência. Indicou o número 3238 5138. Como era um juizado de menores em Aparecida de Goiânia, uma cavalgadura mal educada afirmou que não era com eles e que não tinha o número do juizado tutelar no Setor Sul ou qualquer outro número útil.  Na base da insistência, descobriu-se o número 3524 1760, que só tocava e ninguém atendia, vitima de um defeito.

Persistentes, os cidadãos ligaram no Juizado de Menores da Capital, fone 3236 2702 sendo finalmente, atendidos pelo agente Julio e pela Diretora Ana. Ambos constataram a impossibilidade de comunicação com o Conselho Tutelar do Setor Sul. Prometeram uma solução para o dia seguinte.

Ao saber da denúncia, os zelosos conselheiros Anna Christina Ferreira Barbosa e Rafael, foram ao local e constataram uma realidade de estarrecer. O ambiente, com bebidas alcóolicas espalhadas, sujeira, perigosas gambiarras de fios elétricos, inúmeros cachorros com fezes espalhadas, imundice crônica, alimentos armazenados sem nenhuma higiene e com oferta de quartos para uso avulso em horário noturno, ainda assim se prestava a acolher crianças de mães que trabalham na região.

Já desconfiada de uma possível investigação, a agressiva senhora recusou-se, na terça-feira, a receber sua clientela. Por todos os meios possíveis, e agora com auxilio da Policia Militar, o conselho tutelar procura identificar o nome das crianças e dos pais que entregavam seus filhos a este turbilhão de irregularidades.

Todos anseiam, principalmente,  por identificar a corajosa nenenzinha, quanta bravura, mesmo totalmente indefesa, na fragilidade de um corpo angelical, saiu às ruas se expondo ao perigo e conseguiu chamar a atenção e obter socorro. Que Deus permita encontrar a mãe dessa heroína de colo.

Este caso, que tem condições de um final feliz, atesta o quanto nossas crianças estão à mercê dos adultos e da cretina burocracia, nesta insana estrutura brasileira. É uma deslavada mentira alardear que existem canais rápidos e  eficientes para denunciar abusos envolvendo crianças. Se o cidadão não for obstinado, desses que dedicam horas e não se deixa abater, desiste porque é uma tarefa ingrata.

*Rosenwal Ferreira, jornalista e publicitário