Cesárea ou parto normal, doutora?

*Caroline Regina dos Santos

Nunca imaginei como advogada responder tanto a essa pergunta em meu escritório de advocacia: cesárea ou parto normal, doutora?

O mundo mudou muito e estas indagações eram feitas somente para os profissionais de Medicina. Ocorre que houve a emancipação dos direitos do paciente, mas também de obrigações que muitos esquecem.

Advogar na área de direito médico exige muita sensibilidade aos dois lados. Pois, é difícil imaginar um(a) médico (a) sair de casa para fazer um parto para dolosamente querer matar a mãe e/ou o bebê. Infelizmente, casos acontecem e precisam de atenção das autoridades e trâmites processuais.

Mas a razão é: quem pode responder esta pergunta? Na minha trajetória profissional deveria ser uma conversa mútua na relação de confiança entre médico e paciente. Em alguns casos vivenciados parece uma relação de inimigos. Isso jamais poderá ocorrer. Sem médicos e remédios todos iremos morrer.

Não faço objeção a nenhum tipo de parto. Hoje o paciente emancipou e pode tomar decisões a respeito da sua saúde, tratamento ou até não se tratar em determinados casos. Ocorre que quem faz o curso de medicina, a meu ver, tem um viés técnico mais aflorado para indicar qual parto indicado para a mulher. Em caso de dúvidas, a mulher deve procurar tirá-las ou buscar outro profissional. Apenas para lembrar, o paciente que adquire direitos, ele também agrega obrigações.

Todo ginecologista deve fazer um termo de consentimento informado com linguagem clara e precisa para que o paciente troque ideias e amadureça junto aos seus familiares o melhor tipo indicado de parto e, mesmo assim, em caso de intercorrências o médico pode alterar todo trajeto para salvar a vida da mãe e/ou do bebê.

Se as relações entre médicos e pacientes forem pautadas somente em papéis e documentos perderemos a segurança ao longo do tempo que não estou tratando com uma máquina, mas com um ser humano que busca e estuda exercer a medicina.

Eu me preparei o tempo todo para o parto normal e tive cesárea. E tudo bem! Outras colegas quiseram cesárea, mas tiveram normal e … tudo bem. Confie no seu médico. O mundo está precisando disso.

*Caroline Regina dos Santos é advogada em atua nas áreas de Saúde, Direito Médico e Compliance Hospitalar. Conselheira da OAB/GO (2016/2021). Doutora em Biotecnologia e Biodversidade pela UFG.