Vive-se um tempo bastante estranho. A lacidão ética, a falta de moral, a ausência de caráter parece ter dominado as relações humanas.
Os vínculos formados por ideais comuns, por amizade, por respeito, estão todos frouxos.
As relações interpessoais não possuem mais qualquer valor.
É a era de Hermes. O Deus do comércio está no apogeu.
Tudo está a venda. Todos estão a venda.
No que se limita ao campo interpessoal, o problema seria apenas a falta de caráter.
Ocorre que as pessoas estão inseridas em um contexto social, ora integrando entes privados, ora integrando entes públicos.
A tão combatida improbidade, imoralidade, corrupção – bem verdade que mais combatida por palavras vazias que propriamente por gestos e condutas – não encontra outra origem senão no caráter dos homens que integram a administração pública e as corporações privadas.
A doença não é estatal. É pessoal e contagiosa. Passa da pessoa física à jurídica.
A luz no fim do túnel chega a confundir-se com um trem com faróis ligados prestes a nos atropelar. Não é possível mais sequer saber se a luz – instituições de controle do Estado – é luz ou é trem.
As mesmas condutas reprocháveis que deveriam ser combatidas pelas instituições de controle são rotineiramente assistidas nelas próprias.
Escândalos midiáticos atingem todos, irrestritamente: polícias, Ministérios Públicos, Poder Judiciário, Tribunais de Contas.
Se o que se apresenta a público for apenas a ponta de iceberg prestes a nos afundar, é melhor abandonar o navio.
Talvez esse país não tenha mais jeito.
*Carlos Vinícius Alves Ribeiro, Promotor de Justiça, Mestre e Doutorando em Direito de Estado pela USP, Professor de Direito Administrativo e Urbanístico, Membro Auxiliar do CNMP.