
O Projeto Raízes Kalungas, iniciativa do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO) voltada à promoção da cidadania e do acesso à justiça na maior comunidade quilombola remanescente do Brasil, foi o grande vencedor do 5º Prêmio Conexão Inova. O reconhecimento nacional foi anunciado nesta quarta-feira (4), durante o Convergência 2025, um dos principais eventos de inovação do setor público brasileiro, realizado em Belo Horizonte (MG).
Desenvolvido com base na escuta ativa, no pertencimento e na articulação interinstitucional, o projeto já resultou na emissão de mais de 4 mil documentos civis – entre certidões, RGs e CPFs –, na implantação de sete Pontos de Inclusão Digital (PIDs) em comunidades Kalunga e na contratação e capacitação de mais de 30 servidores locais. O território Kalunga, que abrange os municípios de Cavalcante, Monte Alegre e Teresina de Goiás, é reconhecido como Patrimônio Cultural do Estado e, desde 2021, também como o primeiro Ticca (Território e Área Conservada por Comunidades Indígenas e Locais) do Brasil pela ONU.
Recentemente, o TJGO promoveu em Cavalcante a edição 2025 do “Mutirão Direitos ao Alcance de Todos”, com mais de 2.100 atendimentos em cinco dias, incluindo emissão de documentos, orientações jurídicas, audiências de mediação, atendimentos médicos e regularização fundiária.
O prêmio foi concedido pela Rede Conexão Inovação Pública, que nesta edição avaliou mais de 2.200 projetos inscritos em todo o país. O objetivo da premiação é reconhecer iniciativas que promovam uma gestão pública mais eficiente, acessível e conectada com a população.
O presidente do TJGO, desembargador Leandro Crispim, celebrou a conquista como uma vitória institucional e social. “O reconhecimento nacional do Raízes Kalungas reforça o compromisso do Judiciário goiano com uma justiça humana, inclusiva e que atenda a todos. Esse prêmio dá visibilidade a uma população que merece nosso mais profundo respeito e reconhecimento. É, acima de tudo, uma vitória da cidadania e da reparação histórica”, afirmou.
A apresentação do projeto à banca julgadora foi realizada pela juíza Isabela Maia, da comarca de Cavalcante, que conduziu a equipe técnica. “Essa vitória reafirma o que já vemos na prática: o quanto o projeto faz diferença na vida das pessoas. Levar essa experiência para o palco nacional é ampliar o alcance de algo transformador.”
A servidora Josineste dos Santos, mulher Kalunga e representante da comunidade, emocionou a plateia com um relato pessoal: “Subir naquele palco foi dar voz a uma história que sempre foi contada em silêncio. Foi um momento de orgulho, gratidão e esperança.”
O juiz auxiliar da Presidência do TJGO e coordenador do projeto, Reinaldo Dutra, ressaltou o diferencial da escuta como instrumento de inovação. “Essa vitória mostra que é possível inovar ouvindo. Que é possível transformar a vida das pessoas com escuta, com a participação delas próprias. O projeto tem auxiliado, mas a grande riqueza é o povo Kalunga.”
A assessora da Presidência, Priscilla Ramalho, que acompanha diretamente a execução das ações, afirmou que a premiação dá força à continuidade do projeto. “É um projeto lindo, que vem transformando vidas e a forma de fazer justiça naquela região.”
Carlos Pereira, presidente da Associação de Moradores do Quilombo Kalunga, comemorou a visibilidade nacional. “Esse prêmio é uma chance de o projeto ser replicado em outros lugares do Brasil. A nossa luta por reconhecimento agora é exemplo para o país inteiro.”