Reintegração de posse ameaça 80 famílias do Setor Negrão de Lima

Os moradores da Viela Josué Gouveia, no Setor Negrão de Lima, em Goiânia, tiveram a rotina tranquila do subúrbio modificada pela construção de altos edifícios ao redor de suas residências e também pela chegada de um oficial de Justiça que, segundo eles, trouxe uma notícia desesperadora. A decisão judicial apresentada aos interessados há 15 dias é referente à desapropriação de mais de 50 casas que abrigam pelo menos 80 famílias. O terreno particular foi ocupado de maneira irregular pelos atuais moradores há mais de uma década. As informações são do jornal O Hoje.

Na decisão do juiz Carlos Damacena, da 11ª Vara Cível de Goiânia, o prazo de 30 dias, contados a partir da notificação das famílias, foi concedido para que todos os ocupantes deixem os imóveis localizados na quadra 23, respectivamente na Rua Elisaura, Rua Jules Veres, Rua Dona Santinha, Rua Santinha e Avenida Meia Ponte. Também determinou que a desocupação seja compulsória, caso o prazo não seja cumprido.

De acordo com o mandado de intimação entregue a todos os moradores, o terreno pertencia à massa falida da Empresa Telecon Engenharia e Telecomunicações, e foi concedido à requerente da ação judicial. No entanto, os moradores do local não se conformam com a decisão, já que há anos foram contemplados com água encanada, energia elétrica e linhas telefônicas.

Drama

A diarista Simone da Cunha Barreto, 33 anos, se emociona só de imaginar que terá de deixar o local sem ao menos ter um teto para abrigar seus três filhos. “Não tenho para onde ir. Eu recebi a notícia como uma bomba, se quer tivemos alguma conversa com a prefeitura pra saber se vão nos oferecer algum lugar pra morar”, reclamou.

Portadora de lúpus (doença autoimune) e epilepsia, Vanderleia Nascimento foi atrás de autoridades políticas para tentar salvar a sua casa e de seus vizinhos. “O dinheiro que recebo de aposentadoria é insuficiente para bancar aluguel e muito menos pra comprar uma casa. Aguardo um posicionamento do poder público, já que ficamos tanto tempo no local, que eles viabilizem pelo menos para onde vamos, se não teremos que levar a mudança pra debaixo da ponte”, diz.

Gestantes, crianças e idosos vivem nas casas que, provavelmente, serão demolidas. Eles afirmam terem investido tudo que tinham na construção de seus barracos. “Para ter meu teto, gastei mais de R$ 10 mil”, diz Divina Batista Oliveira, 50 anos. Já a idosa Maria de Nazaré Souza, 71, alega que comprou sua residência por R$ 25 mil. “Isso que eles querem fazer com a gente é um roubo”, acredita. Ela afirma que o sossego dos moradores acabou depois que as construtoras começaram a investir na região. “Chegamos aqui bem primeiro. Agora, depois dos prédios, passamos por preconceito e constantes perseguições policiais”, comenta.

Polícia

No documento emitido pela Justiça, o magistrado também notificou o Comando Geral da Polícia Militar do Estado de Goiás. A intenção descrita no mandado faz referência à necessidade de lisura do procedimento e também para assegurar a integridade física dos ocupantes.

Segundo a assessoria de imprensa da PM, a corporação ainda não foi notificada da decisão. No entanto, esse tipo de ação normalmente é desenvolvida após um planejamento prévio de um grupo de policiais, que inicialmente estabelece um diálogo para que a reintegração de posse ocorra de forma pacífica.