Projetos arquitetônicos verticais colocam em risco o crescimento ordenado

A arquitetura influenciada pela Art Déco de Goiânia foi destaque no jornal americano“The New York Times”. Em recente reportagem especial, o jornalista Simon Romero, exalta a beleza dos monumentos e prédios da cidade, mas lamenta que “estão sendo destruídos para dar lugar a torres indescritíveis”. Para o advogado agroambiental Marcelo Feitosa, trata-se de uma análise pertinente, já que as estruturas foram, aos poucos, cedendo espaço a projetos arquitetônicos verticais que colocam em risco o crescimento ordenado da capital.

“Se os projetores de Goiânia, Atílio Correia Lima e Armando de Godói, fossem vivos na atualidade, certamente se assustariam muito com os rumos tomados pela cidade. Inicialmente projetada para quase 50 mil habitantes, tornou-se uma metrópole e, junto com este crescimento frenético e desordenado, vieram severos problemas de urbanismo e de qualidade ambiental que impactam o cotidiano da população”, opina Feitosa.

Segundo ele, a cidade, que já foi um cartão postal entre as capitais brasileiras como um exemplo a ser seguido, sobretudo em termos de conservação ecológica dos seus espaços urbanos, passa por uma situação delicada quando o assunto é desenvolvimento sustentável. “Com um dos piores trânsitos do País, tendo em vista a extensa frota de veículos, a qualidade de vida na cidade decresce em ritmo assustador”, afirma.

Um dos motivos, conforme o advogado, são as sucessivas alterações no plano diretor. “O bem-estar dos moradores acabou sendo deixado em segundo plano pelos legisladores municipais. O resultado pode ser sentido no dia a dia pelos principais setores da capital”.

Feitosa ainda aponta que, diferente do preconizado pelas leis de conservação ecológica no País, os principais mananciais hídricos da cidade passam por uma situação caótica quando o assunto é o nível de poluição das suas águas. Ele cita como exemplo os córregos Botafogo, Capim Puba, Vaca Brava e do Rio Meia Ponte, “os quais nos fazem refletir o grau de falta de compromisso dos gestores públicos com a qualidade das águas na cidade”.

Como alternativa, o advogado defende que os recursos públicos deveriam ser melhor aplicados para solucionar tais questões. “A alta carga tributária cobrada pelos cofres do município deveria ser mais do que suficiente para gerar e fomentar um desenvolvimento sustentável na cidade que fosse capaz de gerar inveja nas outras cidades brasileiras. Contudo, infelizmente, na prática, isso não tem acontecido”.

Além disso, ele cita o engajamento da sociedade nesta luta: “Ainda há de ser feito para se tentar salvar a cidade. A mobilização dos moradores com a formação de um espírito crítico deve ser o diferencial para se inverter esse quadro alarmante. Dos gestores, devemos cobrar. Eles nos devem explicações e serviços”, finaliza.