
O advogado goiano Erick Tapajós entrou para a história ao se tornar o primeiro profissional autista de Goiás a participar, como palestrante, de um evento oficial do Superior Tribunal de Justiça (STJ). A participação ocorreu na última terça-feira (20), durante o 1º Simpósio STJ: Autismo e Justiça, realizado em Brasília.
Com apenas dois anos de atuação na advocacia, Erick ocupa a vice-presidência jovem da Comissão de Direito das Pessoas com Deficiência (CDPcD) da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás (OAB-GO) e levou ao simpósio uma reflexão sensível e diretamente conectada às vivências de pessoas no espectro autista.
Ele integrou a mesa-redonda “Entre vidas e sentenças: experiências que humanizam a Justiça”, ao lado de representantes do Judiciário e da advocacia de diferentes regiões do país. Participaram do debate o presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), Caio Marinho; o juiz do Tribunal de Justiça do Paraná, Luís Ricardo Fulgoni; a presidente da Comissão Especial de Defesa dos Direitos da Pessoa com Autismo da OAB-AC, Andressa Schulz Calado; e o membro da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com TEA da OAB-AP, Jairo Pereira Santana Junior.
Durante sua fala, Erick Tapajós destacou a importância de tornar efetiva a legislação que protege as pessoas neurodivergentes.
“Cada experiência é singular, mas há algo universal: todas precisam de dignidade, respeito e pertencimento”, pontuou o advogado, que também exerce a função de secretário-geral adjunto de Prerrogativas da OAB-GO.
Para ele, o reconhecimento legal dos direitos das pessoas com transtorno do espectro autista deve se materializar em ações concretas e integradas. “Não basta garantir direitos no papel. Precisamos de um pacto nacional, de toda a sociedade e do Judiciário, para transformar a inclusão em política pública efetiva e em respeito cotidiano”, afirmou.
Inclusão e Justiça
O simpósio promovido pelo STJ reuniu magistrados, juristas, acadêmicos e ativistas de diversas regiões do país, com o objetivo de promover o debate qualificado sobre a inclusão e a acessibilidade no âmbito da Justiça. Entre os temas abordados estiveram a proteção dos direitos das pessoas autistas, a construção de sistemas judiciais mais acessíveis e a necessidade de uma atuação empática e comprometida com as singularidades humanas.
A presidente da Comissão de Direito das Pessoas com Deficiência da OAB-GO, Luciana Prudente, ressaltou a relevância da presença de vozes autistas em espaços institucionais.
“A presença do advogado com transtorno do espectro autista em eventos no âmbito do Judiciário enriquece o debate jurídico e promove uma compreensão mais ampla das diversidades humanas. Traz uma perspectiva única, fundamentada em experiências de vida e formas de raciocínio que muitas vezes desafiam os paradigmas tradicionais, contribuindo para uma justiça mais justa, empática e efetiva”, afirmou.