“O alejamento é apenas orgânico. Espiritualmente sou um homem integral”, afirma advogado ao falar sobre o atentado

Marília Costa e Silva

Walmir Cunha
Walmir Cunha está usando bengala devido a ferimentos graves no pé

“O alejamento é apenas orgânico. Espiritualmente sou um homem integral”. Afirmação é do advogado Walmir Cunha, de 37 anos, que na tarde desta quarta-feira (10) deu a primeira entrevista sobre o atentado a bomba sofrido no último dia 15 de julho, no seu escritório, no Setor Marista, em Goiânia. Ele teve ferimentos graves, que o deixaram sem três dedos da mão esquerda, queimaduras no abdome e fratura no pé esquerdo. Apesar das lesões, ele garante que não está intimidado. Ao contrário, “minha mão que assino as petições ainda está aqui e os meus pés, também”, afirmou.

Otimista por natureza, Walmir, que chegou à salão de sessões da seccional goiana da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-GO) usando uma bengala, fez questão de afirmar que apesar da tragédia que o atingiu, ele só tem o que agradecer. Isso porque ele conseguiu evitar que a bomba, que chegou até o escritório dentro de um pacote bonito que supostamente seria um presente para ele, não fosse detonada na frente da secretária. “Ao perceber que o pacote que eu abria tinha algo de errado, quis sair correndo do escritório. Mas algo me disse para retornar o tirá-lo de cima do balcão da recepção, onde a jovem estava”, contou emocionado.

Conforme Walmir, a bomba explodiu na sua mão. Mas ele, apesar dos ferimentos, não ficou inconsciente em nenhum momento. “Ao contrário, a explosão apenas me derrubou. Ao levantar, eu só pensava em checar se a minha secretária tinha sido ferida, o que graças a Deus não ocorreu”, afirmou, acrescentando que percebeu, então, que suas roupas estavam pegando fogo. “Nessa hora também vi minha mão ferida. Meu pé também teve fratura exposta”, disse. “Não é fácil ser mutilado”, afirmou muito emocionado, alegando que o fato ocorreu de uma forma “surreal”.

Depois de passar por sete cirurgias, Walmir ainda tem de passar por mais uma. Dessa vez uma cirurgia plástica nas lesões do abdome e para enxerto na mão, que agora tem apenas o dedo mínimo e o anular. “Olhar para minha mão é muito difícil, mas eu consigo encarar isso de frente porque percebo que sai vivo. Estou tendo a segunda chance de viver daqui pra frente”, assegurou o advogado, que afirmou que até o dia do atentado acreditava que era uma pessoa sem inimigos.

Atuando nas áreas do Direito Empresarial e Agrário, Walmir não sabe quem poderia ter enviado a bomba. “Apesar de ser um advogado incisivo, nunca ultrapassei os limites da ética. Não fiz inimigos”.  Apesar disso, ele acredita que possa ter sido alguém que se sentiu inconformado com sua atuação em defesa de algum cliente. “A pedido da minha família, não acompanho as investigações. Quero apenas saber quem foi o autor, o que deve ocorrer quando a polícia concluir o caso”, frisou. Ele garante que acredita na Justiça. “Tanto a terrena quanto na divina”.

Para Walmir, caso se confirme que o atentado ocorreu devido a sua atuação profissional, o caso não deve ser encarado apenas como um crime pessoal. “O ataque é contra toda a instituição”, assegurou, dizendo que isso é inaceitável. “Não podemos tolerar a tentativa de acabar com a independência profissional”, frisou. “A advocacia é um dos pilares da Justiça, por isso creio que a sociedade não vai aceitar agressões dessa natureza”, pontuou.

Apoio
Segundo Walmir, além dos familiares e amigos, ele tem recebido muito apoio da OAB, que tem acompanhado o caso desde o início. Hoje, o próprio presidente da OAB-GO, Lúcio Flávio de Paiva, o diretor tesoureiro da instituição, Roberto Serra, e o presidente da Comissão de Direitos e Prerrogativas, Érlon Fernandes Cândido de Oliveira, acompanharam a entrevista. Lúcio Flávio fez questão de afirmar que o atentado a Walmir é também um violência contra a advocacia goiana e brasileira.

Segundo ele, a advocacia inteira está orgulhosa de Walmir. “Ele reagiu de uma forma corajosa e brava. Não se deixou abater. Seu exemplo dá mais coragem para os advogados de Goiás”, ponderou Lúcio Flávio.