O empréstimo consignado com garantia do FGTS, liberado recentemente para trabalhadores da iniciativa privada, movimentou bilhões em seus primeiros dias. Apenas no fim de semana de lançamento, foram mais de 40 milhões de simulações de empréstimo, resultando em mais de 4,5 milhões de propostas e 11 mil contratos firmados por meio do aplicativo da Carteira de Trabalho Digital.
Segundo estimativas do Ministério do Trabalho e Emprego, os contratos devem ultrapassar R$ 100 bilhões nos primeiros três meses da nova modalidade. A expectativa é de que o acesso mais fácil ao crédito, agora com garantia do FGTS, torne os juros mais acessíveis.
Para o advogado previdenciarista Jefferson Maleski, do escritório Celso Cândido de Souza (CCS) Advogados, a principal vantagem está justamente nos juros reduzidos. Ele lembra que antes apenas servidores públicos conseguiam esse tipo de benefício, por conta da estabilidade. Agora, trabalhadores com carteira assinada também podem contar com essa possibilidade.
Apesar da atratividade, Maleski recomenda cautela. O crédito consignado não é um benefício, mas um empréstimo que será descontado diretamente no salário. O trabalhador deve fazer os cálculos antes de contratar, multiplicando o valor da parcela pela quantidade de meses para saber o total a ser pago. Em muitos casos, o montante final pode ser de três a quatro vezes maior do que o valor emprestado.
Outro ponto importante é o impacto no orçamento mensal. Como a parcela pode comprometer até 35% do salário, é essencial avaliar se o valor descontado não afetará o pagamento das demais despesas. O advogado também aconselha o trabalhador a comparar taxas de juros e optar pelo banco que ofereça as menores, e não pelo que libera o maior valor de crédito.
Maleski alerta ainda para os reflexos no FGTS. Ao usar o fundo como garantia, o trabalhador reduz sua reserva para o futuro, o que pode comprometer uma eventual aposentadoria. Em caso de demissão, o saldo do FGTS pode ser retido pelo banco para cobrir a dívida, impedindo o saque pelo trabalhador.
Ele reforça que o valor bloqueado no FGTS não é o valor originalmente emprestado, mas o total com juros. Assim, quem contrata R$ 20 mil, por exemplo, pode ter até R$ 60 mil retidos como garantia da dívida, dependendo das condições contratadas.
Para o especialista, o novo crédito consignado pode ser útil, especialmente para quem deseja quitar dívidas mais caras. Mas o trabalhador deve avaliar com cuidado antes de comprometer parte do salário e de sua reserva futura.