Delegacia do idoso deve ser inaugurada em fevereiro

A Delegacia de Atendimento ao Idoso de Goiânia já tem local definido e deve ser inaugurada em fevereiro. O titular para a especializada também foi definido. Será Emerson Morais, que já atuou como titular do 20°, 10° e 7° Distritos em Goiânia. Também trabalhou nas especializadas de combate ao tráfico e de investigações criminais como adjunto. A delegacia deverá funcionar no Setor Universitário, ao lado da Eseffego, quase esquina com a Avenida Anhanguera. O local ainda passa por adequações, mas a expectativa é que seja inaugurada até o próximo mês. Entre as principais ocorrências contra essa parcela da população, o delegado lista maus tratos, violência financeira, negligência e abandono.

Presidente do Conselho Municipal do Idoso e diretora do Departamento da Pessoa Idosa (DPI) da Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas), Neide Nascimento afirma que esse é um grande passo para o trabalho. Ela afirma que o poder policial é importante para que as investigações sejam encaminhadas para a justiça, para que medidas protetivas possam ajudar as vítimas. “Em muitos casos, ficamos com as mãos atadas. Queremos ajudar, mas não temos como dar andamento nas denúncias que recebemos, porque, assim como mulheres agredidas por companheiros, eles temem em denunciar.”

Neide acrescenta que só no ano passado, 530 denúncias foram protocoladas no DPI, da Semas. Os relatos são encaminhados pelo Ministério Público, Conselho do Idoso e pelas próprias vítimas que buscam o local em busca de auxílio. Ela acredita que os registros tendem a crescer com a implantação da especializada. “Não porque mais casos ocorrem, mas porque mais pessoas estão tendo a coragem de denunciar. A agressão sempre existiu”, opina a diretora do DPI.

Ela cita que no ano passado, o departamento atendeu ocorrência de uma senhora que vivia trancada dentro de casa, enquanto a neta e o marido usavam o dinheiro da aposentadoria. Ao serem acionados, os conselheiros foram ao local, mas a mulher foi encontrada morta. “Esperamos que, com a ação policial, casos como esses sejam solucionados antes de terem finais como esse”, destaca.

Diretora da Pastoral da Pessoa Idosa, da Arquidiocese de Goiânia, Maria de Fátima Cipriano afirma que a maioria dos casos recebidos se referem à violência física. Ela comenta que o avanço da dependência química faz com que filhos e netos abusem de seus parentes mais velhos para conseguir o sustento para o vício. “Temos inúmeros casos de mulheres e homens que são agredidos para cederem seus cartões de benefícios para compra de drogas. O mais triste é que eles são agredidos com frequência.” A diretora ressalta o medo que os idosos têm em buscar ajuda. “O poder policial e a justiça podem frear esses casos, com medidas protetivas e outras ações que, hoje, se fazem fundamentais para a segurança dos idosos”.

Delegado e deputado estadual, Marcos Martins relatou o projeto aprovado na Assembleia Legislativa. Ele entende que a criação desta especializada pode inibir prática de qualquer tipo de lesão ou violência contra os idosos. Além disso, o Estado poderá, por meio da polícia, punir com maior eficiência esses tipos de crime. Ou seja, a delegacia terá autonomia e estrutura para investigar crimes contra os idosos. Ele entende que diversos fatores aniquilam a capacidade de reação do idoso e impedem a formalização das denúncias. Dentre eles, o medo de represálias ou de crescimento da violência, vergonha, sentimento de culpa, afeto pelo agressor, dependência e isolamento social.

O Disque 100, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República registrou, no ano de 2012, 726 denúncias de violações aos Direitos dos Idosos em Goiás, um aumento de 280% em relação aos atendimentos do ano anterior. No Brasil, segundo dados de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há, aproximadamente, 20,6 milhões de idosos, definidos como a população de 60 anos ou mais. Dos quais 560 mil apenas no Estado de Goiás.

Demanda será alta, acredita o delegado

O delegado Emerson Morais, que vai assumir a especializada, acredita que a demanda será alta. Todas as ocorrências que envolvam pessoas com mais de 60 anos como vítimas deverão ser encaminhadas. A delegacia deverá atender toda Goiânia e todas as ações serão norteadas pelo Estatuto do Idoso. Ainda não está definido o número de policiais que deverão atuar na nova delegacia, mas a expectativa é que comece com uma equipe enxuta. “Será apenas o começo. Aos poucos, a delegacia poderá aumentar o efetivo”, acredita.

Entre os tipos de violência contra idosos que serão investigados na especializada, está a violência física ou psicológica. Outro tipo recorrente de caso, é a violência financeira, que ocorre quando há a exploração imprópria ou ilegal dos recursos financeiros sem autorização. Casos de negligência, que vão desde os cuidados com a saúde, alimentação, medicamentos e higiene poderão ser passíveis de inquéritos policiais. E outro caso, que tem sido registrado no conselho do idoso, está o estupro. De acordo com a coordenadora da pastoral, esse tipo de crime tem se tornado recorrente. Na maioria dos casos, são os próprios filhos ou netos que praticam os estupros e isso precisa ser impedido. Fonte: Jornal O Hoje