O presente artigo jurídico analisa a relevância do investimento nos Estados Unidos como estratégia de proteção e valorização de capital em momentos de instabilidade econômica global. Contrariando a percepção de que crises tornariam o mercado americano menos atrativo, argumenta-se, com base em dados históricos e na robustez da economia e do mercado financeiro dos EUA, que a exposição a ativos americanos, especialmente atrelados ao dólar, oferece resiliência, diversificação e potencial de recuperação superior em comparação com o mercado brasileiro.
Introdução:
Em face das crescentes incertezas que permeiam a economia global, particularmente no que concerne aos Estados Unidos, investidores brasileiros frequentemente ponderam a conveniência de manter ou aumentar sua alocação de capital em ativos americanos. O receio de que conflitos tarifários e instabilidades geopolíticas possam deflagrar uma crise de proporções globais suscita a cautela e, por vezes, a inclinação a evitar investimentos nos EUA.
Contudo, a presente análise contesta essa visão, fundamentando-se na premissa de que a história dos mercados financeiros oferece valiosas lições para a tomada de decisões de investimento em cenários de crise. Ao examinar o desempenho de ativos americanos em períodos pretéritos de turbulência econômica, depreende-se que a exposição ao mercado dos Estados Unidos não apenas atuou como um escudo protetor para investidores brasileiros, mas também proporcionou oportunidades de valorização significativas.
Argumentos Fundamentais:
- Acesso à Diversificação Global Através do Mercado Americano:
Investir no mercado americano transcende a mera exposição à economia dos Estados Unidos. A profundidade e a amplitude desse mercado proporcionam aos investidores acesso indireto a uma vasta gama de empresas e economias globais. Milhares de empresas estrangeiras estão listadas nas bolsas americanas, representando cerca de 50 países. Adicionalmente, uma parcela significativa da receita das empresas que compõem o S&P 500 é gerada fora dos EUA, evidenciando a sua exposição e diversificação geográfica. Dessa forma, mesmo em um contexto de políticas protecionistas ou incertezas domésticas nos EUA, o investidor mantém acesso a uma carteira internacionalmente diversificada e resiliente.
Um destaque é imensa gama de possibilidades, a pluralidade setorial do mercado americano também se destaca. Diferentemente de mercados com forte concentração em setores específicos, como o brasileiro, as bolsas americanas abrigam uma ampla variedade de segmentos, incluindo setores de inovação e alto crescimento, como tecnologia, biotecnologia e energias renováveis. Essa diversificação setorial oferece oportunidades de investimento em áreas com potencial de crescimento significativo e menor correlação com a economia doméstica brasileira.
- Uma Economia Robusta:
A economia dos Estados Unidos demonstra uma notável capacidade de superação diante de adversidades. Ao longo do último século, o país enfrentou inúmeras crises de naturezas diversas – desde a Grande Depressão até a pandemia de COVID-19 – sem que sua trajetória de crescimento de longo prazo fosse irremediavelmente comprometida.
Ademais, a magnitude e a centralidade da economia americana no cenário global conferem-lhe uma posição singular. O dólar americano ostenta o status de moeda de reserva global, sendo utilizado em vasta maioria das transações cambiais internacionais, na precificação de commodities essenciais e como principal moeda de concessão de empréstimos por instituições financeiras multilaterais como o Banco Mundial e o FMI. Essa dominância monetária, aliada à liderança em setores de alta tecnologia e à atração de talentos globais, reforça a robustez e a influência duradoura dos Estados Unidos na economia mundial.
- Comportamento Superior em Cenários de Crise:
A análise do desempenho de diferentes classes de ativos em momentos de crises globais demonstra consistentemente a valorização do dólar frente ao real e a menor volatilidade do mercado acionário americano em comparação com o brasileiro. O efeito cambial, resultante da valorização do dólar em períodos de incerteza, frequentemente atenua o impacto negativo das crises sobre os retornos de ativos americanos para investidores brasileiros.
- Oportunidades para empresários brasileiros:
O momento atual, permeado por incertezas econômicas globais, paradoxalmente apresenta uma janela de oportunidades estratégicas para empresários brasileiros que almejam internacionalizar suas empresas nos Estados Unidos. A robustez histórica da economia americana em superar crises, aliada à sua dimensão e centralidade no cenário global, oferece um ambiente potencialmente mais resiliente e com maior potencial de recuperação em comparação com o mercado brasileiro.
- Estratégias e Considerações para a Internacionalização nos EUA:
- Diversificação Geográfica como Proteção: O artigo enfatiza que investir nos EUA, mesmo em tempos de crise, historicamente atuou como proteção para investidores brasileiros devido à valorização do dólar e à menor volatilidade do mercado americano em comparação com o Ibovespa. Para empresários, internacionalizar significa diversificar seus mercados, reduzindo a dependência da economia brasileira e mitigando os riscos associados a instabilidades domésticas. Os EUA, com sua vasta economia e mercado consumidor, representam um destino estratégico para essa diversificação.
- Acesso a um Mercado Amplo e Diversificado: O mercado americano oferece acesso não apenas a consumidores e empresas dos EUA, mas também, indiretamente, a uma vasta rede global através das inúmeras empresas internacionais listadas em suas bolsas e da forte presença de empresas americanas com operações globais. Para empresários brasileiros, isso significa expandir seu alcance de mercado para além das fronteiras nacionais, explorando novas oportunidades de crescimento e receita em um ambiente competitivo, porém dinâmico.
- Exposição a Setores Inovadores e de Alto Crescimento: O artigo destaca a diversidade setorial do mercado americano, com forte presença em setores de tecnologia de ponta, biotecnologia e outros segmentos inovadores. Para empresários brasileiros, a internacionalização nos EUA pode proporcionar acesso a ecossistemas de inovação avançados, permitindo que suas empresas se envolvam com novas tecnologias, modelos de negócios e tendências de mercado que podem não estar tão desenvolvidos no Brasil. Isso pode impulsionar a competitividade e a capacidade de inovação de suas empresas.
- Aproveitamento da Força do Dólar: Em momentos de crise global, o dólar tende a se valorizar, conforme demonstrado no artigo. Para empresários brasileiros com operações nos EUA, essa valorização pode aumentar a receita e a rentabilidade quando os lucros em dólares são convertidos para reais. Além disso, ter ativos e operações em dólar pode servir como uma proteção natural contra a desvalorização da moeda brasileira.
- Atração de Investimento e Talento Global: Os EUA são um polo de atração de investimento estrangeiro e de talentos de todo o mundo, conforme mencionado no artigo. Para empresários brasileiros que buscam expandir suas operações, estabelecer uma presença nos EUA pode facilitar o acesso a capital internacional e a um pool de profissionais qualificados, impulsionando o crescimento e a inovação de seus negócios.
- Construção de uma Marca Global: Internacionalizar uma empresa nos EUA, a maior economia do mundo, pode significativamente aumentar a visibilidade e o prestígio da marca no cenário global. Isso pode abrir portas para novas oportunidades em outros mercados internacionais e fortalecer a reputação da empresa como um player global.
- Considerações Importantes:
- Planejamento Estratégico Detalhado: A internacionalização exige um planejamento cuidadoso, incluindo pesquisa de mercado, análise da concorrência, desenvolvimento de um plano de negócios específico para o mercado americano e compreensão das regulamentações locais.
- Assessoria Jurídica e Financeira Especializada: Navegar pelas complexidades legais e financeiras do mercado americano é crucial. Empresários devem buscar assessoria especializada para garantir a conformidade e otimizar suas operações.
- Adaptação Cultural e de Negócios: O ambiente de negócios e a cultura nos EUA podem ser diferentes do Brasil. As empresas precisarão adaptar suas estratégias de marketing, comunicação e gestão para ter sucesso no mercado americano.
- Investimento a Longo Prazo: A internacionalização é um processo que geralmente requer um horizonte de investimento de longo prazo para gerar resultados significativos.
Conclusão:
Apesar das incertezas globais, a robustez e o potencial de recuperação da economia americana, juntamente com os benefícios da diversificação, acesso a mercados e tecnologias avançadas, e a força do dólar, tornam os Estados Unidos um destino estratégico atraente para a internacionalização de empresas brasileiras neste momento. Os empresários que adotarem uma abordagem estratégica e bem planejada podem aproveitar as oportunidades oferecidas pelo mercado americano para expandir seus negócios, proteger seu patrimônio e alcançar um crescimento sustentável a longo prazo.
*Mara Pessoni é advogada do Witer, Pessoni & Moore an International Law Corporation.