Como a repressão migratória de Trump ameaça a Copa do Mundo da FIFA

A edição inaugural da Copa do Mundo de Clubes da FIFA (CWC) começou no dia 14 de junho em Miami, Flórida, reunindo 32 clubes de futebol de diversas partes do mundo.
Apesar do espírito de celebração, diversidade e união internacional que o torneio busca promover, a atuação agressiva do governo Trump na área migratória ameaçou não apenas esse evento, mas também a Copa do Mundo de 2026, que será sediada por EUA, México e Canadá.

Repressão já começou

Na partida entre o Inter Miami de Lionel Messi e o Al Ahly do Egito, agentes da CBP também estavam visivelmente presentes. Posteriormente, o ICE (Serviço de Imigração e Alfândega) anunciou que todos os não cidadãos presentes na CWC deveriam portar comprovação de status migratório legal durante os eventos.

Quando o futebol encontra fronteiras fechadas

Até quem vos escreve que não aprendeu a amar uma partida de futebol sabe que as políticas migratórias do presidente Trump vão além das operações domésticas e que misturar esporte com política é algo que não se encaixa.

Em 4 de junho, Donald Trump emitiu uma proclamação limitando a entrada de cidadãos de 19 países, a maioria da África e do Oriente Médio — incluindo o Irã, que já está classificado para a Copa do Mundo. O que acontecerá com sua equipe, não poderá adentrar ao EUA como foi feita com a equipe de vôlei de Cuba no qual toda a delegação foi impedida de obter uma visa de esporte para jogar nos EUA?

Embora atletas, técnicos e familiares imediatos estejam isentos, não há exceções para amigos, familiares distantes ou torcedores desses países. Mas volto ao parágrafo acima uma delegação inteira foi vetada de obter um visto, isto pode acontecer novamente?

Além disso, há rumores de que o governo planeja ampliar a lista de restrições para até 36 países, o que poderia dificultar ainda mais a entrada de torcedores internacionais, prejudicando tanto a atmosfera multicultural da Copa quanto seus ganhos econômicos.

Impacto econômico

As incursões migratórias e políticas de Trump já estão prejudicando setores inteiros da economia americana.

O medo de ser detido pelo ICE já atinge hotéis, agências de viagens e companhias aéreas que se preparam para a Copa de 2026.

As Agências de Viagens dos EUA temem que os atrasos na emissão de vistos, o medo generalizado de prisão e a retórica anti-imigração do governo afastem milhões de visitantes.
Mais de 6 milhões de turistas são esperados para a Copa de 2026 — mas esse número pode despencar, segundo especialistas.

Exemplo real: a festa da Telemundo

No dia 11 de junho, a Guarda Costeira dos EUA e a Patrulha de Fronteiras invadiram uma festa em um barco promovida pela Telemundo para celebrar a Copa de 2026.
Passageiros foram supostamente obrigados a apresentar comprovante de residência legal.

A prefeita de Miami-Dade, Daniella Levine Cava, que estava a bordo, classificou a ação como “profundamente preocupante” e afirmou que “não deveria ter acontecido”.
Mesmo após o governo alegar que “não era uma ação direcionada”, o impacto foi o de uma fiscalização migratória agressiva.

O silêncio da FIFA

Apesar de seu compromisso declarado com os direitos humanos, a FIFA permaneceu em silêncio sobre a repressão. O presidente da entidade, Gianni Infantino, participou da posse de Trump e chegou a visitar a Casa Branca. Em resposta à oposição de Trump à diversidade, a FIFA abandonou as campanhas contra o racismo e a discriminação nos estádios da CWC, alegando buscar “neutralidade política”.

Nos bastidores, no entanto, dirigentes pressionaram pela remoção de uma postagem do CBP nas redes sociais sobre sua presença nos jogos — e conseguiram que ela fosse apagada.

Torcedores resistem

As comunidades imigrantes são as grandes responsáveis pela ascensão do futebol nos EUA, inclusive na Major League Soccer (MLS).

Após uma operação do ICE em Nashville, o grupo de torcedores “La Brigada de Oro” boicotou a partida seguinte, em solidariedade à comunidade imigrante local.

Outros grupos de torcedores, atletas e até times inteiros podem seguir esse exemplo à medida que as políticas de Trump colocam em risco o espírito de união e diversidade que o futebol representa.

ONGs como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch já enviaram cartas à FIFA exigindo garantias de que torcedores não serão alvos de operações migratórias durante os jogos da Copa de 2026.

A repressão migratória de Trump não é apenas uma questão de política pública — é também um espetáculo político calculado.

Mas suas consequências são reais: prisões, deportações, medo generalizado e impacto econômico profundo. Se os EUA pretendem receber o mundo em 2026, precisam primeiro parar de criminalizar a presença internacional em seu território.