Na coluna deste sábado (12), a colega Mara Pessoni, advogada do Witer, Pessoni & Moore an International Law Corporation, fala sobre a crise na imigração e a força dos imigrantes na economia dos Estados Unidos. Mara também é especialista em Comércio Exterior.

Leia a íntegra do texto:
A chegada em massa, de imigrantes na fronteira sul dos EUA, nos últimos cinco anos é tratada como uma “crise”. Muitos americanos salientam as ameaças e riscos à segurança nacional, já outros americanos condenam a separação familiar e as violações dos direitos dos requerentes de asilo. Por essas razões e pontos de vista diferentes, muitos americanos estão estigmatizando indivíduos e famílias que adentram o país de forma ilegal.
Os nativos não estão levando em consideração que muitos imigrantes estão nos EUA por anos e até décadas, contribuindo de forma ativa para a economia do país e minimizando a escassez de mão de obra que a nação vive.
A xenofobia está profundamente enraizada na cultura americana, sendo defendida por políticos nacionalistas, entre eles, Donald Trump, que durante sua campanha presidencial em 2016, e mesmo durante todo seu mandato, até 2020, colocou a questão da imigração para sua base MAGA – Make America Great Again. Não poupando o uso de expressões pejorativas e depreciativas em relação aos imigrantes como: “criminosos”, “terroristas”, “traficantes de drogas”, etc.
É fato que, pela fronteira sul, atuam criminosos traficantes de pessoas e drogas, mas a maioria das pessoas que buscam adentrar ao país, são pessoas de bem, famílias inteiras, trabalhadores, que fogem dos seus países que estão na mão de ditadores há décadas e ou em guerra civil, buscam primeiramente, sobreviver.
Diante deste posicionamento político, não surpreende que muitos americanos vejam a onda de imigração como uma “invasão” ao seu país, acreditando que os imigrantes são mais propensos a cometer crimes do que os indivíduos nascidos nos Estados Unidos, além de acreditarem que os imigrantes são mais propensos a assistência pública, causando um peso para o governo.
Embora uma pesquisa do News Gallup (https://news.gallup.com/poll/395882/immigration-views-remain-mixed-highly-partisan.aspx) mostre que dois terços da população entende que a imigração legal é um benefício para o país, 31% (a maioria republicanos), afirmam que é um problema nacional e 38% (também, maioria de republicanos) querem diminuir o número de imigrantes autorizados a entrar no país e 79% dos republicanos entendem que os EUA deveria deportar os indocumentados. E ainda, mais da metade dos republicanos acreditam que os “americanos nativos” estão perdendo espaço no mercado de trabalho para os imigrantes.
Apesar de criticarem ostensivamente o Presidente Biden pela crise na fronteira EUA/México, crise esta que as ações draconianas do Ex-Presidente Trump não conseguiram resolver, os Congressistas republicanos continuam se opondo a todos os projetos de reforma da imigração apresentados pelo Governo Biden e por congressistas democratas.
As ideias xenofóbicas continuam abafando apoiadores de imigrantes, incluindo os requerentes de asilo, intensificado pelos limites criados pelo Ex-Presidente Trump de reduções de vistos para refugiados, vistos temporários de emprego, e cortes nos programas sociais através da lei de “Public Charge”. Por isso, o trabalho dos nativos pró-imigrantes é apresentar evidências convincentes de que adicionar imigrantes à força de trabalho produzirá uma economia americana mais forte e competitiva.
Os economistas trabalhistas apontam que entre 2010 e 2020 o crescimento populacional foi o segundo mais baixo da história dos EUA, isso indica que, em cerca de doze anos, os adultos acima de 65 anos ou mais, superarão as crianças com menos de dezoito anos. Para cada pessoa na Previdência Social, haverá 2,1 trabalhadores pagando em um sistema que precisa de 2,8 para permanecer solvente.
Em julho de 2022, os empregadores anunciaram cerca de 11,2 milhões de vagas de empregos (https://theconversation.com/legal-work-related-immigration-has-fallen-by-a-third-since-2020-contributing-to-us-labor-shortages-188781#:~:text=The%20government%20issued%20a%20record,year%20of%20Joe%20Biden’s%20presidency ), mas apenas 5,7 milhões foram preenchidas, a maior lacuna da história americana. Isso pesa inclusive e com muita força, na inflação dos EUA que também bateu recordes em 2022. Para reduzir a inflação a diferença deveria ser inferior a 2,5 milhões (https://www.goldmansachs.com/insights/pages/could-immigration-solve-the-us-worker-shortage.html ).
Os imigrantes legais constituem 17% da força de trabalho civil (https://www.pewresearch.org/fact-tank/2020/08/20/key-findings-about-u-s-immigrants/), incluindo os aproximadamente 7,6 milhões de “ilegais”, os imigrantes preenchem uma grande proporção dos chamados empregos “não qualificados” na agricultura, hotéis, restaurantes, jardinagem, construção civil, limpeza e cuidados de saúde. Empregos estes aos quais os americanos natos se recusam a trabalhar.
Mas não são apenas nos empregos “não qualificados” que os imigrantes são força de trabalho. Eles também são muito bem vindos na chamada área STEM (Science, Technology, Engineering, Mathematics) onde as vagas de empregos superam em 3 milhões os candidatos qualificados.
Infelizmente, o Presidente Biden não teve força política suficiente, apesar de ter o Senado e a Câmara de maioria Democrata, para aprovar projetos verdadeiramente significativos no campo da imigração, inclusive, beneficiando os mais de 11,5 milhões de indocumentados que estão no país. Sequer conseguiu aprovar alguma lei que beneficiasse os “Dreamers”, que são as crianças e jovens que entraram nos EUA antes de 2012 e foram protegidas pela lei DACA (Deferred Action for Childhood Arrivals), criada pelo Ex-Presidente Obama.
É de suma importância impedir que a xenofobia supere um princípio fundamental americano, representado pela Estátua da Liberdade com sua tocha em uma das mãos, que acolhe imigrantes que podem ajudar a garantir um futuro mais próspero para si e para seus compatriotas americanos.