Caso Felipe Feitoza: acusados são condenados pelo 2º Tribunal do Júri

Os dois acusados de tentar matar o jovem Felipe Feitoza, em julho de 2009, foram condenadas nesta terça-feira pelo 2º Tribunal do Júri de Goiânia. Fabrício Freitas Pacheco, de 25 anos, apontado como responsável pelo tiro que atingiu o rapaz na cabeça foi sentenciado a 9 anos e 4 meses de reclusão por tentativa de homicídio qualificado e Júlio César Gonçalves de Araújo, de 28, que dirigia o carro, recebeu a pena de 8 anos e 8 meses pelo mesmo crime.

Acompanhado de familiares, Felipe Feitoza ouviu a sentença, proferida na noite de ontem pelo juiz Antônio Fernandes, que presidiu o julgamento, em silêncio e comemorou o resultado. “Me sinto aliviado porque percebo que todo o esforço que empreendi por mais de quatro anos não foi em vão.”

Durante o julgamento, o advogado Dickson Rodrigues de Souza pediu a desclassificação do crime de lesão corporal de natureza gravíssima. Em seu pronunciamento, acentuou que os acusados não tinham a intenção de matar o estudante. “O ato de errar está inserido na concepção humana”, afirmou o defensor, ao alegar que os jovens estavam entusiasmados pelo espírito de festa, falavam ao mesmo tempo e ouviam música no carro. Nesta situação, segundo ele, seria impossível que Fabrício mirasse para acertar a cabeça de Felipe.

Repercussão

O caso de Felipe Feitoza ganhou muito destaque. Ele tinha apenas 16 anos quando viu sua vida mudar completamente. Tudo o que o jovem mais gostava teve de ser deixado de lado. As aulas de dança, capoeira, o jiu-jítsu e o violão.  A bicicleta, outra de suas paixões, e o início das aulas no curso de Ciências da Computação, na Universidade Federal de Goiás (UFG). Sonhos interrompidos na noite do dia 12 de julho de 2009, quando Felipe Feitoza foi baleado na cabeça. Ele havia acabado de sair de um shopping de Goiânia e se dirigia a um ponto de ônibus na companhia de um primo. A bala atingiu o lado direito do cérebro, deixando sequelas que ele terá de carregar a vida toda.

Mas o que aquele tiro, disparado pelo auxiliar de contabilidade Fabrício Freitas Pacheco, sem qualquer motivo, não arrancou de Felipe foi a vontade de viver. O sorriso no rosto parece ser uma marca do jovem. Não fossem as cicatrizes deixadas pelas cirurgias, não seria possível perceber o sofrimento passado. Nem mesmo ter ciência do que foi superado e de que sua vida esteve perto de acabar, dada a gravidade do ferimento. “Foi um milagre. O médico chegou a dizer que entregaram a ele um menino morto”, conta a mãe Telma Feitoza.

Com uma força difícil até de se entender, Felipe contrariou os diagnósticos e, a cada dia, supera novos desafios. Mesmo com a hemiplegia (que paralisou o lado esquerdo), ele voltou a fazer parte das atividades que lhe deixam feliz. Com adaptações, anda de bicicleta. Além disso, faz luta e terapia ocupacional com o violão, no Centro de Reabilitação e Readaptação Doutor Henrique Santillo (Crer). Tirou carteira de motorista e namora há sete meses. Falta apenas a capoeira e um outro importante detalhe: a punição para os autores do crime.

Crime

Segundo consta nos autos, naquele dia, enquanto caminhavam pela rua, nas proximidades do Ginásio de Esportes do Setor Bueno, Felipe e o primo foram abordados por um grupo de jovens que estavam em um Golf prata. Um dos rapazes que estava no carro perguntou se eles moravam no Jardim América. Antes de obter qualquer resposta, Fabrício, que ocupava o banco de trás do veículo, atirou contra Felipe. Em depoimento, os acusados dizem que atiraram por engano.

Júlio César, que dirigia o veículo, teria acelerado o carro, levando o grupo para longe do local. Além dos acusados, estavam no veículo outros cinco amigos da dupla. Todos vinham de uma casa de festa localizada no Setor Bueno, onde Júlio César já havia se envolvido em uma briga. Conforme o MP, foi por sugestão dele que o grupo saiu pelas ruas do setor em busca de uma gangue com a qual os rapazes já teriam uma rixa antiga.

Sequelas 

Felipe ficou 23 dias internado, dos quais cinco foram em coma induzido.  Por conta do tiro, ele teve de fazer uma cranioplastia com utilização de prótese de acrílico. Hoje, ele usa uma órtese na perna esquerda para ter mais equilíbrio. A mão, desse mesmo lado, não tem mais força. Além disso, toma anticonvulsivos.  “Por conta disso, não temos mais tranqüilidade. Vivemos com o coração na mão”, diz a mãe do rapaz, Telma Feitoza.

Felipe, segundo conta Telma, também teve mudanças no emocional e ficou com “certa frieza”. Antes, era muito carinhoso, sentimento que foi voltando aos poucos, mas não da mesma maneira. “O primeiro dia que ele me deu um abraço espontâneo foi uma emoção muito forte para mim”, diz. Apesar de aprender rápido, ele tem dificuldades de interpretação e, por isso, não permanece nos cursos universitários que inicia. A memória também foi afetada.